domingo, 13 de dezembro de 2009

Lições sobre sinceridade...

Há dois meses ficamos sócios de um clube para aproveitarmos as aulas de pilates, judô e musculação que eram oferecidas, além da piscina, é claro. O Miguel amou a idéia, mas ficou triste porque o primo, Filipe, não poderia ir ao clube com ele. Foi então que decidi tentar levá-lo para assistir uma aula de judô usando a carteirinha da Clara.
Quando estacionei o carro em frente ao clube o Miguel logo perguntou:
- Mãe, o Filipe vai ficar prá fora?
Eu respondi que não, que o Filipe ia entrar com a gente.
- Mas ele tem carteirinha?
-Deixa comigo, Miguel. Fica sossegado que a mamãe sabe o que fazer.
Ao chegar na catraca, peguei a carteirinha do Miguel e logo que a luz verde acendeu, ele passou. Depois se virou e disse, me olhando com cara de "ponto de interrogação":
- E agora, mãe? O Filipe vai entrar sem carteirinha?
A funcionária que estava na portaria deu uma olhada de "canto de olho" e eu, quase sem jeito, respondi:
- Não filho, o Filipe vai entrar com a carteirnha.
- Mas ele tem carteirinha, mãe?
-Claro que tem, Miguel - falei, enquanto passava a carteirinha da Clara. Foi então que o "super-sincero" deu a bola fora do ano.
- Ô, mãe... essa carteirinha é da Clara.
Eu quase fuzilei meu filho com os olhos. A funcionária fingiu que não ouviu, nós entramos e ficou por isso mesmo.
Os dois fizeram a aula de judô e o Filipe amou o clube. Na hora de ir embora eu alertei o Miguel:
- Filho, o Filipe entrou com a carteirinha da Clara mas, na verdade, a gente não pode fazer isso. É errado, filho. A mamãe só fez isso hoje prá ele poder conhecer o clube. Então, Mi, na hora de passar a carteirinha prá ir embora você fica bem quietinho, porque se a moça perceber que é da Clara e não do Filipe ela vai ficar brava com a gente, entendeu?!?
- Ah, mãe, entendi. Então, na hora que você passar a carteirinha eu vou falar prá moça "olha, moça, essa carteirinha não é da Clara, é do Filipe, viu. Não precisa ficar brava, não, viu!"
Percebendo que o negócio ia piorar, eu completei:
- Não, meu filho. você não vai falar nada. É só ficar bem quietinho.
Passei a carteinha do Mi, ele passou pela catraca. Depois passei a da Clara e o Filipe saiu. Olhei pro Miguel e ele, dando uma piscadinha com os dois olhos, espremeu a boquinha como quem diz "tô bem quietinho, mãe". Então, mais tranquila, passei minha carteirinha e saí. Falei então pros dois:
- Digam tchau prá moça.
- Tchau, porteira!
Daí o Miguel, num sussurro gritado, deu o fora final:
- Ainda bem que ela não percebeu que você passou a carteirinha da Clara de novo, né, mãe!
A moça riu e eu respondi:
- É, Miguel, ainda bem que ela não notou nada...

sábado, 28 de novembro de 2009

Lições sobre comprar e pagar...

Se esse mundo capitalista confunde a cabeça dos adultos, imagine só o que pode acontecer com a de uma criança...
Sempre que saímos o Miguel pede prá comprar alguma coisa. Geralmente são balas, doces ou qualquer outra coisa baratinha, mas ainda assim eu digo que só vamos comprar o que for realmente necessário, que não é legal ficar comprando o que não vamos usar, afinal de contas dinheiro não dá em árvore e o papai e a mamãe têm que trabalhar bastante para poder receber no começo do mês. Enfim, aquele discurso didático sobre "dar valor ao que se tem". Outro dia, no percurso para casa, ele perguntou se podíamos passar no supermercado para comprar um pacote de balas, pirulitos e brinquedinhos para fazermos a sacolinha surpresa do próximo aniversário. Detalhe: o próximo aniversário será em agosto do ano que vem.
- Filho, é claro que nós não vamos comprar nada disso agora. Seu aniversário ainda tá bem longe. Além disso a mamãe ainda não recebeu, então não temos nenhum dinheirinho prá comprar estas coisas.
- Mas mãe, não precisa de dinheiro. É só por no crédito.
Eu perguntei:
- E o que você acha que é "por no crédito", Miguel?
E ele, fazendo os gestinhos com as mãos, respondeu:
- Ué, mãe, é só pegar aquele cartão, passar assim e falar prá por no "crédito". Ele tem bastante dinheiro, então a gente não precisa pagar.
- Quem tem bastante dinheiro, Miguel?
- O "crédito", mãe. Num é ele que paga quando a gente passa o seu cartão?
Então eu expliquei:
- Mas meu filho, crédito não é uma pessoa. Crédito é uma forma de pagar as contas. Quando eu falo prá "por no crédito" eu estou dizendo que eu vou pagar aquela conta no banco depois. De qualquer jeito sou EU que vou pagar, Miguel. Se não tiver dinheirinho, num tem crédito, entendeu?
Então ele, um tanto decepcionado, respondeu:
- Puxa, mãe... e eu que achava esse "crédito" muito bonzinho. Que nada. Ele só engana a gente.
É... isso não dá prá negar!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Os 7 pecados capitais dos pais (última dose)...

Embora não esteja na lista dos "sete pecados capitais", a mentira revela um desvio de caráter que interfere na qualidade da educação que pretendemos dar aos nossos filhos. Não é necessário lembrar que aquilo que se diz a uma criança torna-se "lei" (portanto nunca prometa o que não pode cumprir, nunca estabeleça regras que você mesmo costuma transgredir, jamais afirme algo que você terá que negar em seguida). Porém, a mentira a que me refiro como pecado capital dos pais é um pouco mais sutil: trata-se da atitude que contradiz o discurso. Quando dizemos algo, quando assumimos a "palavra" como um contrato social, nossas atitudes precisam validar nosso "dizer". Infelizmente isso não tem acontecido nas relações familiares. A palavra "amor" tornou-se tão banal que esquecemos de dar à ela o peso que merece, isto é, de cercá-la de ações que demostrem seu poder e sua importância. Amar os filhos é mais do que dizer isto à eles... é repreender com doçura, é investir tempo mesmo na falta dele, é sentir prazer em desfrutar de uma companhia barulhenta, é brincar por diversão e não por obrigação, é ter uma imagem turva de como a vida era antes da chegada dos pequenos. As crianças percebem quando fazemos algo que condiz (ou não) com o que falamos. Creio que o pior pecado cometido pelos pais é mentir sobre o amor que sentem por seu filho, mentir que sentem prazer em tê-lo por perto, mentir que tudo o que estão fazendo é para o seu bem. Se a impaciência é constante, a ausência é rotineira e o bem-estar do adulto vem em primeiro lugar, é óbvio que o discurso não condiz com a prática, e as crianças identificam este "descompasso" com muita facilidade. Na verdade, os próprios pais se deixam enganar e acabam acreditando em suas próprias mentiras de tanto repetí-las e repetí-las. É bastante fácil questionar o amor de pais que espancam, estupram, exploram e abandonam seus filhos. A obviedade dessas atitudes não deixa dúvidas quanto ao caráter dos pais. Porém sejamos sinceros: que caráter fica evidenciado por nossas mentiras sutis? O abandono moral, psicológico e intelectual, tão presente na relação entre pais e filhos em nossos dias, precisa ser visto como nocivo para a criança assim como qualquer outro tipo de abandono. Distorcer esta verdade só traz prejuízos ao relaciomento. É necessário que todas as máscaras caiam para que a educação seja eficaz, fazendo com que nossos filhos se tornem pessoas verdadeiramente responsáveis e felizes.

sábado, 21 de novembro de 2009

Os 7 pecados capitais dos pais (8ª dose)...

É muito comum vermos mini-adultos andando pelas ruas, brincando em parques, passeando em shoppings com seus pais... Basta olharmos ao nosso redor para reconhecermos: as crianças nem sempre se parecem com crianças. Elas dançam como adultos, se vestem como adultos e consomem como adultos. A luxúria é um pecado que contamina pais e filhos. Este pecado está intimamente relacionado com a sensualidade. Mas, afinal, que relação pode haver entre a sensualidade e a infância? Infelizmente estes dois opostos têm se tornado cada vez mais próximos e, mais uma vez, os pais têm desempenhado um papel fundamental para esta aproximação. Sem capacidade para discernir entre mal e bem, as crianças dependem de seus pais para guiá-los em escolhas simples como o que vestir, que música ouvir ou que filme ver. Desatentos, estes têm negligenciado sua tarefa, resultando em crianças e pré-adolescentes que escolhem suas roupas de acordo com a moda lançada pela garota da novela, pela dançarina do grupo de Funk ou outra "celebridade" qualquer. Algumas músicas frequentemente cantadas pelas crianças nos deixariam ruborizados se refletíssemos atentamente sobre suas letras. No entanto, qualquer proibição pura e simples não desenvolverá em nossos filhos o senso crítico que desejamos. É preciso que gastemos tempo analisando o que nós, pais, temos ouvido; como nós, pais, temos nos comportado; de que forma nós, pais, julgamos o que nos chega através da mídia em geral. Precisamos primeiramente desenvolver em nós a criticidade para, então, ensinarmos nossos filhos a duvidarem da qualidade do que lhes é oferecido pelas grandes massas. O estranhamento deve ser o sinal mais evidente de que algo está fora do lugar. Se nada nos parece estranho, é sinal de que tudo está fora do lugar!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Os 7 pecados capitais dos pais (7ª dose)...

Outro pecado que os pais têm cometido, apesar de não reconherem, é o da gula. E não me refiro apenas à gula relacionada à comida e à bebida. As crianças de hoje estão “obesas de informação e anoréxicas de reflexão” (expressão do Prof. Dr. José Kuiava), fartas de “coisas” e carentes de afeição. A quantidade tem sido colocada em primeiro lugar e a qualidade, preterida, sempre fica em segundo plano. O excesso de peso característico dessa geração é apenas uma figura da nossa sociedade, inchada, pesada, farta, mas nunca satisfeita. É exatamente assim que um obeso mórbido se sente. Apesar de ingerir alimentos em grande quantidade, a fome nunca é saciada e o prazer pela alimentação transforma-se em sofrimento. Esse descontrole resulta em malefícios para o corpo e para a mente, assim como a perda da auto-estima. Os relacionamentos familiares não são diferentes. Para driblar a falta de tempo com os filhos, ao invés de investir na qualidade, os pais investem na quantidade. Temos, então, crianças com agendas lotadas: escola de manhã, programa de educação complementar à tarde, judô, karatê, balé, curso de inglês, informática, artesanato... Porém são raros os momentos em que os pais acompanham seus filhos nessas atividades. Em creches e escolas de Educação Infantil (mesmo particulares) é muito comum ver crianças que chegam às 7 horas dormindo e voltam para suas casas às 18 horas dormindo – e nos finais de semana ainda vão para a casa dos avós. É certo que toda atividade que promova o desenvolvimento físico, motor e psicológico da criança deve ser considerada benéfica para o seu crescimento, mas o que pode ser considerado mais importante para este desenvolvimento do que o contato com a família e o relacionamento saudável com os pais? Nossos filhos têm se tornado experts em jogos de computador, internet, filmes e desenhos, gulosos por novas fases, novas compras, novas aquisições, mas pouco têm digerido de tudo o que lhes damos. Falta-lhes um nutriente essencial: a atenção! Ninguém melhor do que os pais para ensinar a eles educação, respeito e ética. Somente desta forma as crianças crescerão tendo seus valores equilibrados na balança.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Os 7 pecados capitais dos pais (6ª dose)...

Nada mais terrível do que constatar o quanto os pais têm ensinado aos seus filhos a lição da avareza. Cada vez mais as crianças demonstram um comportamento baseado na visão capitalista e mercadológica. O ser se dilui nas relações interpessoais e o ter fundamenta toda e qualquer escolha. Não podemos ser ingênuos e achar que podemos lutar de forma distraída contra essa ideologia tão disseminada em nossos dias. Mais uma vez digo: nossas atitudes, nossas condutas, nossas ações e (digo mais!) nossos valores são incorporados por nossos filhos. Por mais difícil que seja pensar desta forma, temos que questionar o fato de crianças ainda pequenas possuírem telefone celular, televisão no quarto, aparelhos diversos antes mesmo de saberem ler os manuais de instrução de cada um deles (não que isso seja necessário, mas pode ser um parâmetro). Além disso, o esforço que se faz para adquirir estes bens nem ao menos é reconhecido . Os valores estão tão invertidos que algumas famílias não se incomodam em pagar mensalmente as parcelas de um computador novo, mas murmuram quando têm que investir alguns reais na formação cultural de seus filhos. O curso de inglês transformou-se em uma geladeira nova, o de balé em um carro novo, a viagem com a família foi adiada por causa das roupas que agora estão estáticas, penduradas no armário. O bem comum e as situações de convívio familiar ficam em segundo plano, pois é preciso trabalhar (e trabalhar muito) para “adquirir” o conforto necessário. Será que as crianças precisam deste pseudo “conforto” que vem tomar o lugar do relacionamento? Nossos filhos precisam aprender a se relacionar com pessoas, e não com coisas, precisam aprender a cuidar dos seus amigos, não apenas de seus brinquedos novos. Só desta forma eles compreenderão que os objetos envelhecem e saem de moda, mas as pessoas serão sempre dignas de investimento.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Os 7 pecados capitais dos pais (5ª dose)...

A preguiça se revela de diversas formas na relação entre pais e filhos. Na verdade ter um filho pressupõe a perda de uma série de “comodidades”: o sono é constantemente interrompido, os horários dos pais (principalmente da mãe) giram em torno da rotina da criança, a alimentação deve tornar-se mais regrada, enfim, tudo se organiza de forma diferente. Os avós, as creches e as babás têm cumprido um papel importante na nossa sociedade, afinal a maioria das famílias são constituídas por pais e mães que trabalham e, por isso, necessitam de ajuda de terceiros para os cuidados com a criança. Porém nada substitui a presença dos pais, isto é fato! Os pais não podem se acomodar. Todo o tempo que possa ser dedicado à criança deve ser empregado em atividades que, embora trabalhosas, fortaleçam o vínculo afetivo e a segurança. Uma atividade como “dar comida à criança” pode não ser tão prazerosa para os pais (convencer sobre a importância de comer alimentos saudáveis, evitar o desperdício, etc., esgota os recursos argumentativos de qualquer adulto), mas o simples fato de sentar ao lado de seu filho e compartilhar com ele uma oração de agradecimento pela refeição pode desencadear condutas que inúmeras palavras não conseguiriam com a mesma eficácia. Sim: educar é trabalhoso, mas nos garante um futuro bem mais tranqüilo, sem dúvida.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Os 7 pecados capitais dos pais (4ª dose)...

A ira é, sem dúvida, o pecado mais facilmente observável na conduta dos pais. É fato que a criança pequena testa os pais o tempo todo, seja negando-se a comer, seja fazendo manha para tomar banho ou em outra situação qualquer. Porém nenhuma circunstância legitima uma atitude, seja ela qual for, fundamentada na irracionalidade. E não nos enganemos pensando que a violência está apenas no bater: a fala agressiva, a intolerância, a gritaria e até mesmo o silêncio e a indiferença podem ser entendidos como atitudes violentas. Educar é muito diferente de “descontar a raiva” e “vingar-se”, e o ato de abandonar, delegando a responsabilidade pela criança para outro, também pode ser violento- uma violência moral, velada, talvez mais perigosa para a formação do caráter. Toda criança clama por atenção e certamente fará o que estiver ao seu alcance para conseguir o que quer. Não defendo aqui que a criança não deva ser repreendida, pelo contrário, as regras devem estar claras e as conseqüências pela violação das mesmas também. Ainda que, em alguns momentos, as atitudes das crianças pareçam agressões explícitas aos pais, volto a dizer que um ato de violência só reforça e justifica estas atitudes. Toda repreensão deve ser pensada, fundamentada. Se uma criança leva uma chinelada porque o pai está “nervoso”, a mensagem que fica sublinhada é o efeito que a conduta da criança provoca no adulto, e não o contrário. Que efeitos a repreensão de um pai deve causar em uma criança? Como chegar a este efeito? Temos que nos perguntar constantemente se aquilo que temos feito tem surtido o efeito que queremos em nossos filhos. Se a resposta for não, é hora de mudar.

domingo, 15 de novembro de 2009

Os 7 pecados capitais dos pais (3ª dose)...

Embora pareça pouco provável, a inveja também pode se revelar nas situações que envolvem pais e filhos. A falta de habilidade para elogiar a criança e a incapacidade de reconhecê-la como merecedora de incentivo e tolerância demonstram isto. Muitos pais, não resolvidos com relação à sua infância, insistem em comparar o que tinham, como agiam e como eram tratados com a realidade dos filhos. Não percebem que não apenas os indíviduos são outros, mas o momento social e histórico também não é o mesmo. Este tipo de conduta pode ser extremamente prejudicial para as crianças, pois nesta fase elas precisam que os pais auxiliem na formação de uma auto-imagem positiva. Além disso a fala dos adultos para com outros adultos em rodas de conversas (muitas vezes frequentadas também pelas crianças) demonstra essa dificuldade em se alegrar com as conquistas e os sucessos do outro. Preservar a imagem da criança, assim como demonstrar certo cuidado para com a figura do outro nas relações cotidianas fará com que uma conduta altruísta e uma auto-estima saudável possam ser construídas.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Os 7 pecados capitais dos pais (2ª dose)...

A soberba pode ser observada na relação entre pais e filhos desde o tom de fala, a escolha pelo tipo de repreensão e a decisão por ouvir (ou não) os argumentos e os relatos das crianças. Os adultos (e principalmente os pais) têm a perigoso hábito de pensar que, porque têm uma experiência de vida maior que a das crianças (pelo menos no que se refere à quantidade de tempo vivido), devam ter a palavra final. Na verdade esta atitude altiva deve ser revista o tempo todo por quem se propõe a educar. O diálogo e o incentivo à reflexão devem tomar o lugar do monólogo e da obediência cega, principalmente porque este tipo de obediência revela-se ineficaz. É necessário lembrar que as crianças constumam reproduzir os modelos que lhes são apresentados. Dessa forma, se os pais agirem com orgulho e presunção para com seus filhos, ou mesmo revelarem este tipo de comportamento na relação com os outros, certamente as crianças terão este mesmo comportamento ao perceberem no outro “a parte mais fraca do diálogo”, fazendo uso de um discurso autoritário enquanto se rende a outros discursos igualmente autoritários. Ouvir a criança exige mais do que paciência. Sair de uma condição de superioridade e literalmente abaixar-se, olhar nos olhos da criança, estar atento ao que ela diz e como diz pode transformar-se em um exercício interessante. Com certeza os argumentos que os filhos usam para convencer seus pais sobre questões diversas são mais persuasivos e fundamentados do que aqueles que os pais usam. Simplesmente dizer “Faça isso porque eu estou mandando”, “Porque não e pronto!” ou “Fica quieto e obedece” não ensinará a criança a se posicionar quando um amigo lhe oferecer drogas ou sugerir que enforquem aula para assistir um filme pornográfico. Exercitar o diálogo deve ser uma tarefa cumprida cotidianamente na relação familiar.

Os 7 pecado capitais dos pais.

Contrariamente ao que se pensa, os 7 pecados capitais não têm fundamentação bíblica, mas foram transgressões ao cristianismo escritas no século IV por Evágrio Pôntico, e que somente no século VII foram subordinadas às revisões teológicas e, depois de examinadas pelo papa Gregório Magno e posteriormente por Tomás de Aquino, converteram-se em uma lista que evidencia nossos instintos mais primitivos. Embora sejam conceitos exclusivamente formulados pelo catolicismo, aqui utilizo os 7 pecados capitais como metáfora para pensar como seria, então, esta lista quando relacionada com a atitude dos pais enquanto educadores.
Primeiramente vejamos o que o dicionário Michaelis nos traz sobre cada um dos termos.
Soberba. Altura de coisa que está superior a outra; elevação, estado sobranceiro. Manifestação ridícula e arrogante de um orgulho às vezes ilegítimo. Altivez, arrogância, sobrançaria. Orgulho, presunção.Inveja. Desgosto, ódio ou pesar por prosperidade ou alegria de outrem. Desejo de possuir ou gozar algum bem que outrem possui ou desfruta.Ira. Cólera, raiva contra alguém. Indignação. Desejo de vingança.Preguiça. Pouca disposição para o trabalho; aversão ao trabalho; inação, mandriice. Demora ou lentidão em fazer qualquer coisa; indolência, moleza; morosidade, negligência.Avareza. Apego demasiado e sórdido ao dinheiro; desejo imoderado de adquirir e acumular riquezas. Mesquinhez, sovinice. Ciúme.Gula. Excesso na comida e bebida. Predileção para boas iguarias. Gulodice.Luxúria. Corrupção de costumes, lascívia, sensualidade.Mentira. Ato de mentir; afirmação contrária à verdade, engano propositado. Hábito de mentir. Engano da alma, engano dos sentidos, falsa persuasão, juízo falso.
Cada um desses "pecados" transparece um desvio de caráter do indivíduo. É interessante notar como as pessoas reagem a estes comportamentos. Como uma conduta guiada por estes “pecados” seria refletida nas atitudes de pais e mães? Que atitudes seriam desencadeadas nos filhos ainda pequenos?
Um detalhe importante: neste texto, ou melhor, nestes textos (postados em doses homeopáticas) os 7 pecados capitais serão, na verdade, 8. Descubra por quê...

domingo, 8 de novembro de 2009

Lições sobre insistência e persistência (ou o nome que se queira dar)...

Sabe aquela explosão no vocabulário que as crianças costumam apresentar por volta dos 2 anos? Pois é, a Clara está passando por essa fase linguística, e todas as falas dela acabam se tornando cômicas, seja porque ela repete, como um papagaio, aquilo que falamos, seja porque ela dá um novo sentido às palavras que ouve e as utiliza em um lugar que, normalmente, não usaríamos. Um exemplo disso acanteceu no sábado, em uma lanchonete. Cada um de nós pediu um lanche e, como de costume, além do lanche o garçon nos trouxe catchup, mostarda e um copinho plástico com maionese e uma colherzinha para nos servimos. Quando viu o potinho de maionese a Clara começou a gritar e a mexer os bracinhos:
- A télo, télo none, mamãe...
Eu entendi perfeitamente o que ela estava querendo dizer e respondi em seguida:
- Isso não é danone, Clara... é maionese!
- A télo, mamãe... télo nese...
- Filha, não pode comer isso! É ruim!
E ela, irredutível, continuou:
- A télo, mamãe... télo ruim! A télo ruim...
Bem, não teve jeito. Tive que dar um pouquinho de maionese prá ela experimentar e, enquanto punha na boca a colherzinha com um pouco do danone que virou maionese e acabou ganhando o nome de "ruim", ela dizia, com uma careta:
- Olha, mamãe... ruim! Dotoso...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

"Muita hora nessa calma"...

Um dia desses, vendo meu filho pintar um desenho, reparei no quanto o mundo moderno tem afetado nossa capacidade de desfrutar das pequenas coisas que poderiam nos dar algum prazer. Embora tenha apenas cinco anos, ele já demonstrava os sinais da intolerância característica dos adultos apressados e estressados. Indeciso quanto à cor que usaria, começou a resmungar dizendo que nenhum lápis do estojo serviria, que queria a “cor de camelo” e ela não estava lá. Então, meio a contragosto, pegou outra cor e começou a pintar, mas reclamava o tempo todo que estava pintando “fora da linha”, que ia parar porque estava ficando feio. Parou por alguns segundos, depois tornou a pegar o lápis e continuou o trabalho. Quando foi pegar outra cor, murmurou que o desenho era muito grande. Largou novamente. Por fim, abandonando a folha e os lápis em cima da mesa, saiu choramingando, inconformado não sei com o quê. Naquele momento ele parecia um velho resmungão, um Hardy da vida. Será que as crianças são realmente impacientes ou somos nós, adultos, que ensinamos a elas a lição da intolerância? Será o corre-corre do cotidiano que nos torna limitados em nossos sentidos, em nossa percepção? Será a agitação da alma que faz com que nossas tarefas diárias sejam transformadas em um fardo?
Ao perceber meu filho tão inquieto, incapaz de completar a tarefa de pintar um desenho, não conseguindo ver nele o colorido que desejava, comecei a refletir sobre minhas próprias atitudes. Quantas vezes me peguei, no início do mês, desejando que ele terminasse para que o próximo pagamento caísse logo na conta bancária. Quando troquei de carro (e financiei o novo em 60 meses), a primeira coisa que me veio à mente foi “tomara que esses 5 anos passem voando”. O almoço é sempre engolido às pressas, a roupa é colocada na máquina de lavar à noite para que possa ser estendida no varal de manhã antes de ir pro serviço, o banho é tomado antes de sair e o horário é sempre corrido, nunca dá tempo de passar o creme hidratante, o batom fica na bolsa, o semáforo é sempre demorado demais, a espera é sempre muito longa, o dia é sempre muito curto. Aliás, eu gostaria de saber quem foi que roubou algumas horas do meu dia.
Quando eu era adolescente eu gostava de sair na chuva, pular o muro prá nadar na casa da vizinha quando ela não estava lá, deitar na grama da Unesp prá admirar a lua, ficar horas no telefone falando com uma amiga que não via há tempos... me entretia lendo o rótulo do sabonete e a fórmula do shampoo enquanto estava no banheiro, lia gibis, contava piadas, comia um lanche feito em casa... Meu filho não consegue nem terminar de colorir um desenho, e ele tem apenas cinco anos. Os filhos são o retrato de seus pais. Reconheço que meus dias estão em “escala de cinza”.
Hoje eu e ele vamos terminar de pintar o desenho que ficou jogado na mesa da sala de jantar.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Lições sobre roubar, comprar e emprestar...

Sempre que vamos ao supermercado eu tenho que avisar logo que saímos de casa: nem adianta dicar pedindo tudo o que vê pela frente, só vamos comprar o necessário. Na verdade eu deixo o Miguel escolher 1 produto que ele queira levar prá casa (daqui a pouco vou ter que fazer o mesmo com a Clara). O problema é que ele sempre fica indeciso: pega o chocolate, depois troca pelo danone, muda de idéia quando vê o salgadinho... e assim vai até chegar ao caixa. Na semana passada fomos ao Extra comprar o leite da Clara - um leite de soja caríssimo que geralmente só encontramos lá. Por incrível que pareça, o Miguel não pediu NADA! Eu estranhei, mas aproveitei a amnésia temporária para sair com uma sacolinha só do supermercado. Quando estávamos indo para o estacionamento ele viu aqueles pirulitos de chocolates na barraquinha de doces.
- Mãe, eu quero, eu quero, eu quero pirulito de chocolate.
A Clara-papagaio foi no embalo:
- Totolate, mamãe... a télu.. (traduzindo: chocolate, mamãe... eu quero...)
Como a barraquinha estava fechada eu nem precisei buscar argumentos.
- Não vai dar prá comprar... tá fechado.
- A gente pega um e sai correndo, ué...
Surpresa, eu reprovei:
- Que é isso, Miguel! Pegar sem pagar é roubo, meu filho!
Ele, todo sem graça, consertou:
- Não, mãe, eu escrevo um bilhete assim, ó: "Oi, aqui é o Miguel. Eu peguei um pirulito de chocolate, mas é só emprestado. Amanhã eu volto prá pagar, tá. Um beijo. Tchau."
- Num dá prá fazer isso, meu filho.
Enquanto ele resmungava, eu comentei com o Dê:
- Já pensou se a moda pega? Os caixas de supermercado vão ficar cheios de bilhetinhos...
E ele completou:
- E eu quero ver quem é que volta prá pagar...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Lições sobre medo...

No mês passado precisei, pela primeira vez desde que casei, comprar "Diabo Verde" para desentupir o vaso sanitário. Eu nem sabia direito como utilizar, mas uma coisa deve ser dita: funciona mesmo! Agora podemos usar o banheiro sem preocupações.
Por falar nisso, estou tentando fazer com que o Miguel use mais o banheiro sem precisar ser "empurrado". Eu explico: ele segura o xixi até o último momento e, quando está quase molhando as calças, começa a sapatear e fazer uma dancinha engraçada. Então eu, com cara de brava, mando ele correr pro banheiro e só então ele vai fazer xixi. Em uma noite, pouco antes de dormir, ele começou a "dançar". Eu logo dei a ordem:
- Vai já fazer xixi, Miguel, antes que você faça na calça.
Ele correu pro banheiro e o Dê, lembrando do vaso sanitário entupido, alertou.
- Vai no outro, filho, que esse num tá funcionando.
Eu expliquei:
- Não, Dê, deixa ele usar esse mesmo que eu coloquei o "Diabo Verde" na privada e já desentupiu.
Ele foi, abaixou as calças, a cuequinha, sentou e, de repente, começou a gritar.
- Mãe! Mãe! Mãe!
Eu corri prá ver o que era.
- Fica aqui, mãe, senão o diabo verde vai beliscar o meu bumbum.
Eu comecei a rir e, mostrando o frasquinho do produto, expliquei:
- Não, filho, num tem diabo verde na privada. O "Diabo Verde" é isso aqui.
- Ah, mãe, você tirou ele da privada e prendeu nesse potinho?
Quase sem conseguir falar de tanto rir, eu abri o frasco e mostrei o conteúdo.
-Filho, "Diabo Verde" é o nome desse pozinho que desentope a privada.
Ele suspirou aliviado. E eu fiquei só imaginando o diabinho sendo carregado pela descarga junto com o xixi do Miguel...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Lições sobre dinheiro...

Desde que ganhou um cofrinho e um saco de moedas do tio, o Miguel só fala em "receber". Quando vamos buscar o Dê ele dá um jeito de ir até a produção e "trabalhar" um pouco. Depois pergunta se já está na hora de receber o salário. E se, por algum motivo, eu ou o Dê pegamos uma moedinha sequer do bendito cofre, ele logo diz que estamos "devendo" prá ele. No meio de tudo isso, procuramos conscientizá-lo sobre o valor do dinheiro e mostrar que ele não precisa se preocupar com isso agora, afinal de contas haverá muito tempo prá trabalhar no futuro. Ainda assim ele não perde a chance de pedir uma moeda ou, quando está mais "cara-de-pau", uma nota pro tio.
Hoje, durante a tarde, ele pegou um bloquinho de papel e caneta e começou a escrever uns números bem grandes: 1 0 1. Depois me mostrou e aproveitou prá perguntar:
- Quanto tem aqui, mãe?
- Cento e um reais, filho.
- É bastante, mãe?
Eu valorizei:
- É bastante, filho... muito mesmo!
E ele completou:
- É mesmo, né, mãe! É mais que uma mula!
Eu dei risada:
- Que é isso, Miguel? De onde você tirou isso? Mais que uma mula?
- Claro mãe. Por acaso a gente tem uma mula?
- Não, filho... é claro que não.
- Pois é. A gente não tem uma mula porque custa bastante dinheiro. Mas agora eu tenho muito dinheiro, né, mãe?
E eu, depois da explicação, concordei:
- Tem sim, filho. Mais que uma mula!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Lições sobre consultas médicas...

Se tinha uma coisa que me deixava constrangida era ir ao supermercado, ao consultório médico, enfim, a qualquer lugar público e me deparar com uma criança fazendo birra, se jogando no chão, chorando alto... por isso fui, desde cedo, fazendo a cabecinha do Miguel prá que ele tivesse um bom relacionamento com o pediatra. Toda vez que marcava uma consulta eu falava pro Miguel que íamos visitar um grande amigo, levávamos uma foto, eu colocava a roupinha do São Paulo nele (o médico é corinthiano!!!) e ele ia todo feliz ver o doutor. Como dizem por aí, "filho de peixe, peixinho é!"... meu filho não é nem um pouco tímido, adora bater papo e tem uma língua afiadíssima, às custas de muito "treino". E ele começou a treinar a "língua" até mesmo com o médico! Hoje, durante uma consulta de rotina, o Miguel puxou papo:
- O que você vai fazer, doutor Glaymir?
O médico fez com que ele se deitasse na maca e começou a examiná-lo, pressionando a barriguinha enquanto dizia:
- Eu vou ver o que você comeu hoje. Deixa eu ver: arroz, feijão, carne, leite... acertei?
E o Miguel respondeu:
- Errou, doutor! Porque leite a gente não come... a gente bebe!
O médico só comentou:
- É... eu podia ter dormido sem essa!
Esse Miguel é fogo...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Lições sobre convencimento...

Se tem uma coisa que me preocupa é ver as crianças (sejam filhos ou alunos) se entupindo de balas e chicletes. Eu já presenciei um menino comendo um prato de arroz, feijão e carne com um chiclete dentro da boca. Acho um absurdo! Estou tentando convencer o Miguel a rejeitar a "borracha" de mascar, mas nem sempre meus argumentos convencem. Em minha mais recente tentativa eu apelei pro medo. Vendo o Miguel mascando com aquela bocona aberta enquanto tomava banho, eu comentei:
- Filho, você sabia que teve um jogador de futebol que morreu engasgado com um chiclete?
- Eu sei, mãe... o pai me contou.
- Então, Mi...
Ele, rápido como sempre, me tranquilizou.
- Pode deixar, mãe. Eu nunca mais vou chupar chiclete jogando futebol!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Lições sobre "silogismos"...

Confesso que não é comum me ver passando roupa! Prá falar a verdade, há pouco tempo atrás eu dobrava todas as roupas bem dobradinhas, bem amassadinhas, guardava assim mesmo e só passava na hora de colocá-las. Mas com dois filhos a coisa fica um pouco mais difícil, então tomei "vergonha na cara" e comecei a passar as roupas logo depois de lavar. Ontem o ferro não parou nem um segundo. O bom é que comprei um ferro a vapor, então o trabalho fica um pouco "menos difícil". Coloco um copo com água do lado da tábua de passar roupas, vou abastecendo o reservatório de água do ferro e, enquanto assisto um ou outro programa na Tv, vejo a montanha de roupas diminuindo. Bem, o Miguel, que deve estar aprendendo alguma coisa sobre plantas e animais na escola, ficou me olhando enquanto passava as roupas. Em um certo momento ele comentou:
- Mãe, sabia que ferro é um ser vivo?
Eu não entendi muito bem.
- O quê, filho?
- É verdade, mãe. Ferro é um ser vivo!
Eu retruquei:
- É claro que não, Miguel. De onde você tirou isso! Que idéia!
- Claro que é mãe. Você num tá vendo que ferro também bebe água?
Eu olhei pro ferro, olhei pro copo, olhei pro Miguel...
- Todo ser vivo bebe água, mãe. Seu ferro também bebe água. Então...
Depois dessa, não me restou outra alternativa, senão completar:
- ... o ferro é um ser vivo.
Dá prá contrariar?

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Lições sobre "inconveniência"...

Desde que nos casamos, eu e o Dê combinamos que eu teria os filhos (é claro!) e ele faria vasectomia. E fez! Há duas semanas ele foi até o consultório médico e fez a cirurgia, que é bem simples. O Miguel ficou um pouco impressionado vendo o pai fazendo compressas de gelo no... bem, vocês sabem... fez um monte de perguntas, ouviu uma porção de respostas e pôs um ponto final no assunto. Pelo menos era o que nós achávamos. Essa noite, logo depois do culto na Igreja, a tia Paula veio me contar sobre a participação dele na aulinha. Ela falava sobre Jesus, seu amor por nós, seu cuidado, e viu a mãozinha do Miguelito no ar.
- Gente, vamos escutar o que o Miguel quer perguntar. Pode falar, Miguel.
Ele se levantou e, fazendo os gestos, disparou:
- Tia, sabia que o meu pai cortou o pipi bem aqui, ó, prá minha mãe não ter mais bebê?
As meninas colocaram a mão na boquinha, fazendo cara de espanto, e a tia Paula teve que, driblando o riso, contornar a situação. No final do culto nós rimos até não poder mais. E eu bem que notei a filhinha da Vivi olhando de lado pro Dê, como se dissesse "eu sei de tudo, tio"...

Para saber mais sobre Vasectomia, acesse http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=3310&ReturnCatID=1746

sábado, 5 de setembro de 2009

Lições sobre moda II...

Hoje, logo após o banho, o Miguel pediu para escolher a roupa que iria vestir. Geralmente as combinações são péssimas e eu tenho que argumentar bastante para convencê-lo de que a bermuda de malha não combina com o sapato preto "de casamento", ou que a regata azul não fica bem com calça jeans e bota marrom. Qual não foi o meu espanto quando o vi entrando no quarto com um bermudão de brim, tênis, boné combinando com o restante da produção e um cinto na mão.
- Tô na moda, mãe?
Eu assobiei e disse:
- Tá super na moda, filho.
Ele estendeu a mão:
- Põe meu cinto, mãe, que depois eu ponho a carmi.
Esticando o ouvido, eu perguntei:
- Põe o quê?
- A carmi.
Continuei olhando com cara de ponto de interrogação. Ele estendeu de novo a mãozinha:
- Põe o cinto, mãe. Depois eu ponho a carmi.
- Mas o que é carmi, Miguel.
E ele explicou:
- A carmi, mãe... com esta bermuda tem que usar carmiseta.

Lições sobre o choro (e suas funções)...

Toda criança, por mais boazinha que seja, em algum momento deixa os pais loucos com manhas e choros por motivos fúteis. O Miguel não foge à regra. Eu fico impressionada como ele, na maioria das vezes, procura motivos para se debulhar em lágrimas. Desta vez ele alegava que queria assistir "Eu, a patroa e as crianças" na Tv, e que se saíssemos da casa da avó naquele momento ele perderia o programa.
- Miguel, a gente precisa ir embora. Você assiste em casa...
- Não, mãe, não vai dar tempo de chegar em casa. Vai acabar. E eu quero muito ver o que vai acontecer com o Michael.
Enquanto ele chorava, eu ria. E quanto mais eu ria, mais ele achava que devia chorar. Até que, cansada do dramalhão, eu dei a última palavra.
- É o seguinte, meu filho, nós vamos prá casa e se você ficar chorando no carro eu deixo você de castigo sem assistir televisão. Vai parar de chorar agora?
Ele fechou a boquinha como se estivesse mordendo os lábios, soltando só um gemido ainda mais incômodo do que o próprio choro. Vendo que eu continuava brava, ele se justificou:
- Eu não tô chorando mais, viu, mãe. Tô só lavando o meu rosto.
Segurando o riso, eu retruquei:
- Pois é melhor lavar o rosto na pia quando chegar em casa.
E ele, com a resposta na ponta da língua, pôs o ponto final na conversa:
- Eu prefiro lavar com as lágrimas mesmo... é mais quentinho.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Um mundo a ser sentido.

Um dia, passeando pelo bairro, vi um senhor tentando atravessar a rua. Eu sei que há pessoas atravessando ruas o tempo todo, mas esse senhor tinha algo de diferente: usava uma espécie de bengala e tinha os olhos fixos num ponto que eu conseguia entender qual era. Se a minha mãe estivesse ali, diria: “Olhe para os dois lados antes de atravessar!”. Até mesmo quando a rua só tem uma mão ela diz isso. E sabe que ela tem razão? Outro dia uma senhora de óculos e cabelos brancos estava dirigindo desesperada, tentando encontrar uma casa. Só que ela estava na contramão. Por causa disso todos os outros motoristas também ficaram desesperados. Ela nem percebeu. Quando finalmente achou a casa que estava procurando, estacionou como se nada tivesse acontecido, saiu do carro e abriu o portão, ignorando as palavras pouco educadas dos que estavam assistindo a cena. Já pensou se nesse exato momento eu estivesse atravessando a rua sem olhar para os dois lados?
Mas o senhor de bengala não ia poder seguir os conselhos da minha mãe. Ele era cego, não conseguia enxergar nem para um lado, nem para o outro. Só vi ele espichando a orelha (isso mesmo, a orelha!) e, então, atravessando a rua. Fiquei de boca aberta: não é que ele conseguiu perceber a hora exata em que nenhum carro estava passando? Depois pôs a mão no relógio e continuou andando, um pouco apressado.
Será que as pessoas cegas enxergam com os olhos? Ou será que elas enxergam com as mãos? Ler eu sei que elas lêem com as mãos. É num tal de braile, um papel cheio de furinhos. Elas passam as mãos e conseguem descobrir o que está escrito.
Minha mãe me disse que as pessoas que têm alguma deficiência em órgãos sensitivos (ela que me ensinou essa palavra) compensam apurando outro sentido. É mais ou menos assim: se um cego quer saber se a comida está boa, mas não consegue ver (é claro!), então ele usa seu olfato e paladar, sentindo o cheiro e o gosto da comida. E melhor ainda: pode experimentar a comida várias vezes, antes mesmo de estar pronta. Em dias de bolo de chocolate deve ser legal não enxergar...
As pessoas que não ouvem- e por isso também não sabem falar- usam as mãos para se comunicar. Isso mesmo, falam com as mãos. Como? Através de uma linguagem de sinais. Assim como existem as letras A, B, C, e todas as outras para serem escritas no papel, na lousa, na mesa (opa! na mesa não...) existem também gestos de letras. É só mexer os dedos direitinho que a gente consegue escrever qualquer palavra no ar. Mas tome muito cuidado! Não tente fazer isso sem a ajuda de um especialista, senão você pode dar nó nos dedos! Também é perigoso fazer algum gesto que... bem, você sabe...
Tem gente que tem não tem problema nenhum na língua nem no nariz, mas que não consegue sentir cheiro nem gosto direito. Nestes casos, o problema é o tempo. Quando faz muito frio o nariz da gente fica tampado, a boca fica seca e a nossa língua não consegue sentir direito toda a delícia de uma saborosa macarronada. Aliás, você sabia que boa parte do gosto que a gente sente não é gosto, mas cheiro? Por isso que com o nariz entupido a gente come menos. E você já viu alguém tampando o nariz prá tomar xarope? Pode não ser 100%, mas até que ajuda...
Já imaginou não poder sentir frio, nem calor, nem dor? Dor eu dispenso, mas o calorzinho de um dia de verão, o ar frio batendo no rosto quando a gente abre a geladeira... isso eu faço questão de sentir. A martelada na mão eu não preciso sentir, nem o corte no dedo. Epa, mas se eu não sentir o corte no dedo, como é que vou saber que estou cortando o dedo? Posso até ficar sem dedo! Cruz-credo! Tá bom, nem a dor no dedo eu dispenso!
Só sei de uma coisa: se a gente não pudesse cheirar, tocar, sentir o sabor, ouvir e ver o mundo, seria melhor que não existisse mundo. Afinal, mundo só é mundo porque a gente sente que ele existe!

sábado, 29 de agosto de 2009

Lições sobre "pessoas importantes"...

O Miguel sempre me surpreende por sua sensibilidade, sua forma carinhosa de se lembrar das pessoas. Desde que o tio morreu, ele frequentemente pergunta sobre onde ele está e se está bem. Eu respondo que o titio está com o Papai do Céu, mas o assunto nunca se esgota.
Certo dia, passando por uma das praças que têm aquelas estátuas de pessoas que nós nunca sabemos ao certo quem são, o Miguel perguntou:
- Mãe, por que as pessoas fazem estátuas?
- Para se lembrarem de outras pessoas, Mi.
- E quem são as pessoas das estátuas?
- São pessoas importantes, filho.
Ele pensou um pouco e completou:
- Ah, já entendi, mãe... é uma pessoa que já morreu e daí fizeram uma estátua prá gente se lembrar dela, não é?
- Isso mesmo, filho.
- Então vamos fazer uma estátua do tio Beto, mãe!
Sem saber direito o que dizer, eu respondi:
- Não dá, filho...
- Por que, mãe? O tio Beto não era muito importante?
Eu não esperava por essa. A pergunta me fez pensar nos nossos valores, no que realmente é importante prá nós. Quantas vezes comemoramos o dia da Procalmação da República, mas nos esquecemos de cumprimentar um amigo em seu aniversário só porque não o vemos há algum tempo. Nos lembramos de acarinhar nossos pais apenas na data em que o comércio estipulou que devemos dar a eles um presente. Todos os dias dormimos e acordamos ao lado das pessoas mais importantes do mundo prá nós, mas poucas vezes nos lembramos de dizer isso à elas.
Para o Miguel o tio Beto era muito importante, sim. E se eu pudesse voltar àquele dia em que ele me perguntou "Por que as pessoas fazem estátuas?", eu reponderia:
- Para nos lembrarmos de quem provavelmente será esquecido. As pessoas inesquecíveis prá nós, filho, estas não precisam virar estátuas. Estão sempre vivas na nossa memória!

domingo, 23 de agosto de 2009

Lições sobre "como se (des)pentear"...


Boa dica de um penteado sofisticado para festas de formatura e casamentos! Gostaram?

Lições sobre caridade...

Se tem uma coisa difícil de fazer aqui em casa é convencer o Miguel a guardar os brinquedos. Ele sempre espalha tudo e sai como se não precisasse recolher nada, como se os carros e bonecos tivessem vida própria e pudessem ir sozinhos para a barrica de bugigangas. Nem sempre a "boa conversa" surte efeito, então às vezes eu tenho que usar um tom um pouco mais incisivo, digamos assim...
- Miguel, ou você guarda esses brinquedos ou eu vou pegar tudo e colocar lá fora. Aí você fica sem nenhum brinquedo e esse quarto fica organizado.
- Ah, mãe... pega prá mim...
- Não senhor, você brincou, você guarda!
- Se você por lá fora eu não vou precisar guardar?
- Não, só que você não vai ter mais nada prá brincar também...
- Então faz assim: você pega e põe lá fora. Afinal de contas, tem um monte de crianças pobres que não têm nenhum brinquedinho, né? Pode por lá fora, mãe... pode por.
Caridoso, esse meu filho...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Lições sobre "Higiene do Bebê"...

A Clara é uma das crianças que mais dá lucro às fábricas de fraldas: quanto cocô! Quando eu amamentava, era uma mamada e uma troca (sem exagero nenhum!). Geralmente quando a criança começa a comer a digestão demora um pouco mais a ser feita, mas no caso da Clara isso não fez com que menos de 9 ou 10 fraldas fossem utilizadas por dia. Isso sem contar os lenços umedecidos e as pomadas contra assadura.
Bem, todos sabem que quando um bebê faz o "número 1" o pai até se dispõe a trocar, mas quando é o "número 2", pode fazer drama, terrorismo, pedir por favor, pelo amor de Deus, não faz a menor diferença: você sempre terá um NÃO como resposta. Às vezes o Miguel até tenta me ajudar. Hoje foi uma comédia! A Clara estava toda agitada, com as fraldas "cheias" e eu pedi que ele pegasse tudo o que era necessário para a troca. Ele veio com as duas mãos ocupadas:
- Pronto, mãe. Peguei uma fraldinha, a pomada e o lenço "merdecido".
Eu caí na risada. Foi impossível não relacionar o nome que ele deu com a imagem deplorável que o alvo lencinho teria depois de cumprir sua missão de limpar o delicado bumbum infantil. Ele não entendeu muito bem, mas tratou de sair devagarinho, afinal já havia feito muito trazendo o lenço umedecido... quem o veria "merdecido" à partir de então seria eu!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Lições sobre como (não) usar maquiagem...

Quem tem filhos pequenos sabe que eles imitam praticamente tudo o que fazemos. Se você diz qualquer coisa engraçada, eles repetem e ainda dão risada, mesmo sem entender muito bem do que estão rindo. Basta dar um piscadinha mais demorada para receber a mesma piscadinha como resposta. Enfim, todos os movimentos têm que ser "friamente calculados" e os objetos mais perigosos, cuidadosamente guardados em lugares altos.
A Clara sempre me vê passando batom, rímel, delineador, e fica desesperada querendo usar a maquiagem também. Não é nada fácil driblar a mocinha: ela é teimosa! Enquanto não consegue o que quer, não pára de pedir "datom"- que significa batom em nenenês. Outro dia eu saí correndo quando escutei o Dê me chamando:
- Ro, vem me ajudar que eu nem sei por onde eu começo...
Já sabia que um dos dois "anjinhos" tinha aprontado alguma. Geralmente é o Miguel que inventa de pegar qualquer coisa que ele "precisa muito" e acaba derrubando tudo o que está por perto. Dessa ele estava comigo na sala, então deduzi que se tratava de uma arte da Clara. Quando cheguei no quarto, foi impossível não rir. Ele estava debruçada sobre a cama, com um pote de Minâncora aberto em uma das mãos e com a outra passava a pomada na boquinha. Nem preciso dizer que metade do rosto já estava branco e a outra metade não demoraria a ficar igual. Ainda meio sem forças por causa da crise de riso, fui chegando perto e perguntando:
- O que é isso, minha filha... comendo pomada?!?
E ela, com aquela carinha de sapeca, foi explicando:
- A datom, mamãe...
Foi um sacrifício tirar o potinho da mão dela. Prá falar a verdade, ela só soltou quando troquei a pomada por um gloss com cheirinho de morango. Já pensou se a moda pega?!?

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Lições sobre consumismo...

O aniversário do Miguelito está chegando e ele não pode ver ninguém falando sobre o assunto que já começa a pedir presente. Eu fico morrendo de vergonha, por isso já comecei a fazer "terrorismo":
- Não é prá pedir nada prá ninguém, hein, Miguel, senão eu nem faço sua festinha. Se as pessoas quiserem dar um presente, deixe que elas escolham!
O duro é que as avós logo perguntam o que ele quer ganhar, e eu é que fico com fama de má quando ele responde:
- Minha mãe num deixa eu pedir nada prá ninguém... né mãe?
E eu tenho que sair com essa:
- Se perguntarem o que você quer ganhar, aí você pode responder, né filho!
Hoje à tarde fomos comprar um tênis novo- presente da vovó escolhido pelo aniversariante. Ele aproveitou o passeio pelo centro da cidade e foi perguntando, enquanto passávamos em frente a uma loja de calçados:
- Vó, um tênis custa caro?
- Não, Miguel... um tênis não custa muito caro...
A próxima loja era de balas e guloseimas.
- E bala, vó... custa caro?
- Imagina, Mi... bala é baratinho!
Logo em seguida passamos em frente à uma farmácia.
- E remédio, vó... custa caro?
- Ah, Miguel, remédio custa muito caro!
- Então eu mudei de idéia. Quero um remédio de presente!

domingo, 16 de agosto de 2009

Lições sobre agricultura...

Estávamos almoçando em um restaurante, como fazemos todos os sábados. Fui com o Miguel preparar um prato bem "colorido". Começamos com os vegetais: tomate, brócolis, couve-flor, berinjela (só para a Clara, porque o Miguel não gosta), vagem... podem acreditar, eles comem tudo isso! Depois completamos com arroz, feijão, carne e batata frita (afinal, ninguém é perfeito!). Quando fomos prá mesa, ele foi logo perguntando:
- Mãe, você sabe como é que faz a couve-flor?
- Sei, filho... é só plantar um pé de couve-flor e ela nasce.
- Tá errado, mãe.
Querendo ver onde a conversa ia terminar, eu instiguei:
- Num é assim? Então me explica como é que faz a couve-flor.
- É só plantar um pé de brócolis. Depois que nascer você pinta de branco, aí vira couve-flor.
Boa constatação!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Lições sobre moda...

O Miguel tá naquela fase de querer desenhar e pintar, mas a coordenação motora ainda não ajuda muito. Então ele pede que eu desenhe (se é que pode-se chamar meus rabiscos de desenho) prá que ele possa colorir. Hoje ele queria uma cena de casamento, então foi me orientando:
- Agora faz um homem com cabelo de onda, com camisa e gravata, desenha o sapato... isso mãe!
Passamos, então, para a noiva:
- Vai, mãe, faz uma mulher de cabelo comprido e vestido.
Prá economizar algumas linhas, desenhei um tomara-que-caia.
- Mãe, tá faltando uma parte do vestido dela.
Eu expliquei:
- Não, Miguel, esse vestido é assim mesmo, é um tomara-que-caia.
Ele ficou um tempo pensativo, depois deu uma risadinha e completou:
- Você falou o nome errado, mãe. É tomara-que-não-caia.
Sabe tudo sobre o mundo fashion...

Lições sobre "jargões televisivos"...

Sempre que aparece uma personagem carismática repetindo um jargão todas as noites na Tv, é batata: de uma hora prá outra tá na boca do povo. E mesmo quem não curte muito acompanhar novelas acaba pegando a mania de tanto ouvir as pessoas falando na rua. Voltando de carro prá casa à noitinha, numa dessas conversas despretensiosas, o Dê arrematou um comentário qualquer com a frase "Jesus, apaga a luz!". O Miguel logo respondeu:
- Ele já apagou, pai. Apagou a luz e acendeu a lua.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Mais lições sobre participação em sala de aula ...

O Miguel está super participativo no cultinho infantil. Sempre tem um comentário a fazer, uma dúvida a tirar...
Dessa vez a tia Paula estava contando a história da mulher que lavou os pés de Jesus com perfume e enxugou com os próprios cabelos. Inconformado, ele pergunta:
- Com os cabelos? Por quê, tia? Naquela época num tinha toalha, não?
Vai ser difícil de responder essa...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Lições sobre participação em sala de aula...

Domingo, no cultinho infantil, a Tia Paula estava contando histórias para as crianças e, no meio da aulinha, falou sobre a cidade de Canaã. O Miguel, sempre muito participativo, levantou a mãozinha:
- Tia, eu conheço essa cidade... meu pai já foi vender etiqueta lá!
Exagerou, hein, Miguel...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Lições sobre a gripe suína...

Essa não é do Miguel. Uma amiga que contou a "pérola" do sobrinho...
Com medo de levar bronca por estar "faltando" às aulas, o menino (mais ou menos da idade do Miguel), se justifica pro primo:
- Ô, Julinho, num tá tendo aula na minha escola por causa da gripe. Na sua escola tá tendo aula?
- Não, na minha escola também não.
- E você sabe dessa gripe nova? Ela é muito forte, derruba até super-homem...
- É mesmo? Me diz então o nome da gripe...
- É gripe... gripetonita!

Chocolate!!!

domingo, 2 de agosto de 2009

Lições sobre tarefas domésticas...

Todo domingo é a mesma coisa: vamos à Igreja limpos e bem arrumados e, quando voltamos, o Miguel está imundo. As brincadeiras com os amiguinhos no final do culto sempre rendem manchas enormes na camiseta, calça, tênis, isso sem falar nas mãos e braços que clamam por água e sabão. Hoje não foi diferente. Ao chegar em casa, o Dê foi logo falando:
- Muito bonito, hein, senhor Miguel. Olha como tá a camiseta novinha que sua avó te deu, toda suja...
Eu completei:
- Pois é! E depois quem é que tem que dar um jeito nessa roupa, hein, me diz?
Com a resposta na ponta da língua, o Miguel não hesitou:
- E prá quê que serve a máquina de lavar, hein, me diz?
Sem comentários, né...

sábado, 25 de julho de 2009

Lições sobre humildade...

A hora da refeição é sempre uma boa hora para contar histórias, compartilhar informações, afinal, é um dos poucos momentos em que a família se reúne. Durante o almoço o Miguel aproveitou para falar sobre as notícias que ouviu ontem no jornal.
- Mãe, você num sabe, dois homens viram uma casa vazia e foram roubar as coisas de dentro. Daí pegaram um menininho de três anos, levaram ele, depois ele foi matado e os bandidos ficaram com o dinheiro.
- Credo, filho, quem te contou isso?
- Vi no jornal.
- E o que mais você viu?
Talvez porque sua atenção não fosse assim tão longa para assuntos jornalísticos, talvez porque não se lembrasse de mais nenhuma história impressionante, ele começou um novo relato, obviamente inventado.
- Um homem entrou voando num banco, tava de máscara, roubou todo o dinheiro e daí foi viajar.
Eu não pude deixar passar.
-Essa você tá inventando, né Miguel...
Ele riu e perguntou:
- Como é que você sabe que eu tô inventando, mãe?
E, sem falsa modéstia, eu respondi:
- Porque eu sei tudo, filho.
- Você não sabe tudo, mãe.
- Sei, sim, Miguel.
Ele, então, fez o teste:
- Você sabe quem inventou a luz, mãe?
- Claro que sei. Foi Thomas Edison.
- Tá vendo como você num sabe de nada, mãe? Quem inventou a luz foi Deus. Ele falou "haja luz".
Eu, um tanto quanto surpresa, fui obrigada a concordar.
- Tem razão, filho, o primeiro a inventar a luz foi Deus.
E ele, sem dó nem piedade, tripudiou:
- Pode deixar, mãe, que eu te ensino uma coisinhas...
A primeira lição que as crianças têm para nos ensinar é que temos muito o que aprender com elas...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Lições sobre nutrição...

Quem convive com crianças sabe que não é necessário um parceiro para que haja diálogo entre elas. As crianças têm o hábito de falar sozinhas- a chamada "fala egocêntrica"- e normalmente respondem às suas próprias perguntas, seja em atividades comuns, seja em brincadeiras. O Miguel, após ganhar duas surpresas Kinder Ovo, estava em um desses diálogos, como que encenando a conversa entre o coelhinho laranja-com-cara-de-sapeca e o coelhinho rosa-que-usa-óculos. Parei para escutar:
-Vamos lutar, coelho. Você não é de nada. Você é que não é, seu fracote. Eu não sou fracote, eu sou super forte. Você não come cenoura... é, você não come cenoura...
Intrometida, eu interrompi:
- Não, filho. O rosa também é coelhinho, então ele come cenoura sim.
- Não, mãe, esse coelho não come cenoura.
- Filho, todo coelhinho come alface, cenoura...
- Mas mãe, você num disse que cenoura faz bem pros olhos? Esse coelho usa óculos, então ele não come cenoura, não é mãe?
Arrependida pela intromissão, eu tive que concordar...
- É, filho, acho que você tem razão... esse coelho não come cenoura.
Ninguém mandou eu me meter na conversa alheia!

Lições sobre higiene...

O Miguel tem a mania de se achar o maior dançarino de hip-hop de todos os tempos. E quando tem platéia, então, ele se joga no chão, balança as pernas, arrisca os passos mais engraçados sem medo de parecer esquisito... e no fim dá show! O duro é que fica inteiro sujo- mãos, calça, sapatos, tudo!
Depois de uma de suas "apresentações" na calçada da Igreja ao final do culto, fomos jantar na casa da vovó. Eu, é claro, fui logo dizendo:
- Pode levantar dessa mesa e ir lavar as mãos. Você ficou se tacando no chão, rolando de uma lado prá outro... está com as mãos imundas! Naquela calçada passa cachorro, gato, todo mundo pisa, imagina só o tanto de bichinhos que estão na sua mão e vão prá sua barriga se você comer sem lavar as mãos?!?
O vovô, puxa-saco por excelência, defendeu o porquinho:
- Num tem problema... o que não mata, engorda!
E o Miguel, tirando suas próprias conclusões, não deixou passar:
- Tá vendo, mãe! Ainda bem que eu não te obedeço! Já tô acostumado a engordar, mesmo!
Avós sempre "deseducam" as crianças!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Lições sobre beleza...

Estávamos vendo Tv, um tanto quanto desatentos, quando passou o resultado de um desses programas de "transformação": uma mulher bem sofrida, cabelos despenteados, sorriso clamando por dentista -enfim, necessitando de ajuda profissional- que depois de passar pelo quadro do programa se transformou em "top model" (guardando as devidas proporções, é claro!). O Miguel foi logo perguntando, com cara de quem já sabia a resposta:
- Você achou que ela ficou bonita mãe?
- Eu achei. E você achou que ela ficou bonita, filho?
E ele respondeu:
- Não, eu não achei que ela ficou bonita. Eu acho que ela é bonita. Todas as pessoas são bonitas, não é, mãe?
Meio sem jeito, eu concordei:
- É filho, é verdade... todas as pessoas são bonitas.
E ele completou:
- Menos as pessoas malvadas... essas são feias mesmo!
As crianças sempre têm algo importante para nos ensinar...

terça-feira, 14 de julho de 2009

Lições sobre segurança...

Hoje fomos comprar uma pizza, então passamos no banco para retirar o dinheiro. Miguel, sempre prestativo, se adiantou pegando o dinheiro no caixa eletrônico e perguntando em voz bastante alta:
- Quanto dinheiro tem, mãe?
Eu disfarcei, coloquei o dinheiro na bolsa e fui levando ele pela mão até o carro enquanto ele dizia, cada vez mais alto:
- Você me ouviu, mãe? Eu quero saber quanto dinheiro tem. Mãe, responde!
Ao entrarmos no carro eu expliquei:
- Filho, quando a gente vai ao banco retirar dinheirinho a gente não deve ficar falando quanto pegou nem ficar contando o dinheiro na rua. Tem pessoas malvadas que ficam prestando atenção prá roubar o dinheirinho que a gente pega no banco, entendeu, Mi?
Ele fez que sim e ficou cantarolando enquanto nos dirigíamos até a pizzaria. Chegando lá, descemos, escolhemos a pizza, esperamos que ficasse pronta, pagamos e voltamos para o carro. Enquanto atravessávamos a rua eu comentei:
- Hum, que delícia, hein! Pizza de brócolis!
E o Miguel soltou essa!
- Xiiiiiiiiiiu, mãe! Num fala! Tem pessoas malvadas que podem roubar a nossa pizza!
Eu repondi rindo:
- Não filho, acho que a pizza eles não vão querer roubar.
- Então da pizza a gente pode falar, mãe?
É, acho que a pizza só é valiosa prá quem está com fome e quer comê-la! Não é impressionante a capacidade de generalização das crianças?!?

Mais coisas de Miguelito...

O período de férias é uma beleza! Dormir até mais tarde, aproveitar o dia prá fazer coisas aparentemente sem importância nenhuma... escutar o Miguel fazendo drama... ele é realmente um dramaturgo!
Ontem, em plena segunda-feira, estávamos os três (eu, Miguel e Clara) deitadões, aproveitando a manhã embaixo do edredon. A Clara era a única que estava dormindo e o Miguel queria acordá-la a todo custo.
- Não, Miguel, deixa ela dormir. Assim nós descansamos um pouco mais também.
Então ele coloca a mão delicadamente na cabecinha dela e, com cara de ator recitando seu texto já decorado, diz com os olhos fechados:
- Que haja esperança, que haja paz em nome de Jesus!
Eu ri, é claro!
- Você ama muito a Clara, né filho?
- De todo o meu coração- ele respondeu.
- Ela também te ama, viu!
E em mais uma sessão de dramaturgia matutina, ele pegou a mão dela, pôs no coração e soltou:
- Você tá dentro de mim, Clara. Dentro de mim.
A cara que ele faz nessas horas é hilariante!
Depois saiu na pontinha dos pés e, quando eu perguntei onde ele ia, ele completou:
- Vou buscar meus instrumentos prá acordar ela com música...
Olha, se ele continuar assim, quem vai gostar disso é a futura namorada...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Coisas de Miguelito...

Meu filho Miguel fala cada uma, que eu fico pensando: De onde ele tirou essa?
Indo pro trabalho, todos no carro às 6:45 da manhã, ele pergunta ao passarmos pelo Cemitério das Cruzes:
- Mãe, é verdade que em cada cruzinha dessa tem uma pessoa enterrada?
- É sim, Miguel.
- E por que as pessoas morrem?
Pergunta difícil, hein...
- Por que elas ficam bem velhinhas, bem velhinhas, e daí morrem.
- E quando as pessoas morrem elas têm que ficar guardadas aí embaixo da terra?
- É, Miguel. Primeiro colocam elas em uma caixa de madeira e depois enterram essa caixa com a pessoa dentro.
- Mas aí a pessoa não acorda nunca mais, não é?
- É, filho. A pessoa vai morar prá sempre com Deus.
- Mas como é que ela vai morar com Deus se ela fica presa na caixa?
Outra pergunta difícil...
- É que antes de colocarem a pessoa na caixa, Deus leva com ele o coração da pessoa. Então ela vive prá sempre com ele.
- É... acho que eu quero morar mais um pouquinho aqui com vocês. Num gosto muito de caixas...
A simplicidade de suas perguntas e a verdade em suas conclusões, filho, me fazem ver o porque de Jesus ter-nos dito que devemos ser como crianças para herdarmos o Reino...

sábado, 27 de junho de 2009

Canção para Miguel

Vem afastar o silêncio
interromper meu sono
me chamar prá brincar
pedir colo enquanto como
rejeitar o almoço
atrasar o jantar
demorar prá dormir
demorar prá acordar.
Desligar a TV
aumentar o som
quebrar o CD
estender tua mão
marcar a parede
sujar o sofá
espalhar toda a roupa
que eu ia passar.
Vem me dar um abraço
pedir mais um beijo
espantar o cansaço
correr pro banheiro
molhar o azulejo
e o chão inteirinho
pegar a toalha
e não se enxugar.
Vem trocar a roupinha
escolher o sapato
pisar no cadarço
cair, levantar
correr novamente
subir na motoca
trombar com a parede
sair, se sujar...
Vem alegrar minha vida
me fazer sorrir
me fazer chorar
me fazer sentir
me fazer cantar
me fazer dormir
prá depois me acordar.
Meu filhinho querido
você, tão pequeno
ocupa a casa toda
ocupa a vida toda
e nada ocupa o teu lugar.

Canção para Clara

Menina, minha menina
pequena, minha pequena
imagina a vida sem ver teu sorriso
sem ouvir teu choro
sem sentir teu cheiro

Menina, minha menina
pequena, minha pequena
o que seria dos dias
das noites inteiras
sem sono
levando você no meu ombro

Menina... sorria
chegada na hora mais linda
a vida agora é mais Clara
mais viva...