sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Lições sobre consultas médicas...

Se tinha uma coisa que me deixava constrangida era ir ao supermercado, ao consultório médico, enfim, a qualquer lugar público e me deparar com uma criança fazendo birra, se jogando no chão, chorando alto... por isso fui, desde cedo, fazendo a cabecinha do Miguel prá que ele tivesse um bom relacionamento com o pediatra. Toda vez que marcava uma consulta eu falava pro Miguel que íamos visitar um grande amigo, levávamos uma foto, eu colocava a roupinha do São Paulo nele (o médico é corinthiano!!!) e ele ia todo feliz ver o doutor. Como dizem por aí, "filho de peixe, peixinho é!"... meu filho não é nem um pouco tímido, adora bater papo e tem uma língua afiadíssima, às custas de muito "treino". E ele começou a treinar a "língua" até mesmo com o médico! Hoje, durante uma consulta de rotina, o Miguel puxou papo:
- O que você vai fazer, doutor Glaymir?
O médico fez com que ele se deitasse na maca e começou a examiná-lo, pressionando a barriguinha enquanto dizia:
- Eu vou ver o que você comeu hoje. Deixa eu ver: arroz, feijão, carne, leite... acertei?
E o Miguel respondeu:
- Errou, doutor! Porque leite a gente não come... a gente bebe!
O médico só comentou:
- É... eu podia ter dormido sem essa!
Esse Miguel é fogo...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Lições sobre convencimento...

Se tem uma coisa que me preocupa é ver as crianças (sejam filhos ou alunos) se entupindo de balas e chicletes. Eu já presenciei um menino comendo um prato de arroz, feijão e carne com um chiclete dentro da boca. Acho um absurdo! Estou tentando convencer o Miguel a rejeitar a "borracha" de mascar, mas nem sempre meus argumentos convencem. Em minha mais recente tentativa eu apelei pro medo. Vendo o Miguel mascando com aquela bocona aberta enquanto tomava banho, eu comentei:
- Filho, você sabia que teve um jogador de futebol que morreu engasgado com um chiclete?
- Eu sei, mãe... o pai me contou.
- Então, Mi...
Ele, rápido como sempre, me tranquilizou.
- Pode deixar, mãe. Eu nunca mais vou chupar chiclete jogando futebol!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Lições sobre "silogismos"...

Confesso que não é comum me ver passando roupa! Prá falar a verdade, há pouco tempo atrás eu dobrava todas as roupas bem dobradinhas, bem amassadinhas, guardava assim mesmo e só passava na hora de colocá-las. Mas com dois filhos a coisa fica um pouco mais difícil, então tomei "vergonha na cara" e comecei a passar as roupas logo depois de lavar. Ontem o ferro não parou nem um segundo. O bom é que comprei um ferro a vapor, então o trabalho fica um pouco "menos difícil". Coloco um copo com água do lado da tábua de passar roupas, vou abastecendo o reservatório de água do ferro e, enquanto assisto um ou outro programa na Tv, vejo a montanha de roupas diminuindo. Bem, o Miguel, que deve estar aprendendo alguma coisa sobre plantas e animais na escola, ficou me olhando enquanto passava as roupas. Em um certo momento ele comentou:
- Mãe, sabia que ferro é um ser vivo?
Eu não entendi muito bem.
- O quê, filho?
- É verdade, mãe. Ferro é um ser vivo!
Eu retruquei:
- É claro que não, Miguel. De onde você tirou isso! Que idéia!
- Claro que é mãe. Você num tá vendo que ferro também bebe água?
Eu olhei pro ferro, olhei pro copo, olhei pro Miguel...
- Todo ser vivo bebe água, mãe. Seu ferro também bebe água. Então...
Depois dessa, não me restou outra alternativa, senão completar:
- ... o ferro é um ser vivo.
Dá prá contrariar?

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Lições sobre "inconveniência"...

Desde que nos casamos, eu e o Dê combinamos que eu teria os filhos (é claro!) e ele faria vasectomia. E fez! Há duas semanas ele foi até o consultório médico e fez a cirurgia, que é bem simples. O Miguel ficou um pouco impressionado vendo o pai fazendo compressas de gelo no... bem, vocês sabem... fez um monte de perguntas, ouviu uma porção de respostas e pôs um ponto final no assunto. Pelo menos era o que nós achávamos. Essa noite, logo depois do culto na Igreja, a tia Paula veio me contar sobre a participação dele na aulinha. Ela falava sobre Jesus, seu amor por nós, seu cuidado, e viu a mãozinha do Miguelito no ar.
- Gente, vamos escutar o que o Miguel quer perguntar. Pode falar, Miguel.
Ele se levantou e, fazendo os gestos, disparou:
- Tia, sabia que o meu pai cortou o pipi bem aqui, ó, prá minha mãe não ter mais bebê?
As meninas colocaram a mão na boquinha, fazendo cara de espanto, e a tia Paula teve que, driblando o riso, contornar a situação. No final do culto nós rimos até não poder mais. E eu bem que notei a filhinha da Vivi olhando de lado pro Dê, como se dissesse "eu sei de tudo, tio"...

Para saber mais sobre Vasectomia, acesse http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=3310&ReturnCatID=1746

sábado, 5 de setembro de 2009

Lições sobre moda II...

Hoje, logo após o banho, o Miguel pediu para escolher a roupa que iria vestir. Geralmente as combinações são péssimas e eu tenho que argumentar bastante para convencê-lo de que a bermuda de malha não combina com o sapato preto "de casamento", ou que a regata azul não fica bem com calça jeans e bota marrom. Qual não foi o meu espanto quando o vi entrando no quarto com um bermudão de brim, tênis, boné combinando com o restante da produção e um cinto na mão.
- Tô na moda, mãe?
Eu assobiei e disse:
- Tá super na moda, filho.
Ele estendeu a mão:
- Põe meu cinto, mãe, que depois eu ponho a carmi.
Esticando o ouvido, eu perguntei:
- Põe o quê?
- A carmi.
Continuei olhando com cara de ponto de interrogação. Ele estendeu de novo a mãozinha:
- Põe o cinto, mãe. Depois eu ponho a carmi.
- Mas o que é carmi, Miguel.
E ele explicou:
- A carmi, mãe... com esta bermuda tem que usar carmiseta.

Lições sobre o choro (e suas funções)...

Toda criança, por mais boazinha que seja, em algum momento deixa os pais loucos com manhas e choros por motivos fúteis. O Miguel não foge à regra. Eu fico impressionada como ele, na maioria das vezes, procura motivos para se debulhar em lágrimas. Desta vez ele alegava que queria assistir "Eu, a patroa e as crianças" na Tv, e que se saíssemos da casa da avó naquele momento ele perderia o programa.
- Miguel, a gente precisa ir embora. Você assiste em casa...
- Não, mãe, não vai dar tempo de chegar em casa. Vai acabar. E eu quero muito ver o que vai acontecer com o Michael.
Enquanto ele chorava, eu ria. E quanto mais eu ria, mais ele achava que devia chorar. Até que, cansada do dramalhão, eu dei a última palavra.
- É o seguinte, meu filho, nós vamos prá casa e se você ficar chorando no carro eu deixo você de castigo sem assistir televisão. Vai parar de chorar agora?
Ele fechou a boquinha como se estivesse mordendo os lábios, soltando só um gemido ainda mais incômodo do que o próprio choro. Vendo que eu continuava brava, ele se justificou:
- Eu não tô chorando mais, viu, mãe. Tô só lavando o meu rosto.
Segurando o riso, eu retruquei:
- Pois é melhor lavar o rosto na pia quando chegar em casa.
E ele, com a resposta na ponta da língua, pôs o ponto final na conversa:
- Eu prefiro lavar com as lágrimas mesmo... é mais quentinho.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Um mundo a ser sentido.

Um dia, passeando pelo bairro, vi um senhor tentando atravessar a rua. Eu sei que há pessoas atravessando ruas o tempo todo, mas esse senhor tinha algo de diferente: usava uma espécie de bengala e tinha os olhos fixos num ponto que eu conseguia entender qual era. Se a minha mãe estivesse ali, diria: “Olhe para os dois lados antes de atravessar!”. Até mesmo quando a rua só tem uma mão ela diz isso. E sabe que ela tem razão? Outro dia uma senhora de óculos e cabelos brancos estava dirigindo desesperada, tentando encontrar uma casa. Só que ela estava na contramão. Por causa disso todos os outros motoristas também ficaram desesperados. Ela nem percebeu. Quando finalmente achou a casa que estava procurando, estacionou como se nada tivesse acontecido, saiu do carro e abriu o portão, ignorando as palavras pouco educadas dos que estavam assistindo a cena. Já pensou se nesse exato momento eu estivesse atravessando a rua sem olhar para os dois lados?
Mas o senhor de bengala não ia poder seguir os conselhos da minha mãe. Ele era cego, não conseguia enxergar nem para um lado, nem para o outro. Só vi ele espichando a orelha (isso mesmo, a orelha!) e, então, atravessando a rua. Fiquei de boca aberta: não é que ele conseguiu perceber a hora exata em que nenhum carro estava passando? Depois pôs a mão no relógio e continuou andando, um pouco apressado.
Será que as pessoas cegas enxergam com os olhos? Ou será que elas enxergam com as mãos? Ler eu sei que elas lêem com as mãos. É num tal de braile, um papel cheio de furinhos. Elas passam as mãos e conseguem descobrir o que está escrito.
Minha mãe me disse que as pessoas que têm alguma deficiência em órgãos sensitivos (ela que me ensinou essa palavra) compensam apurando outro sentido. É mais ou menos assim: se um cego quer saber se a comida está boa, mas não consegue ver (é claro!), então ele usa seu olfato e paladar, sentindo o cheiro e o gosto da comida. E melhor ainda: pode experimentar a comida várias vezes, antes mesmo de estar pronta. Em dias de bolo de chocolate deve ser legal não enxergar...
As pessoas que não ouvem- e por isso também não sabem falar- usam as mãos para se comunicar. Isso mesmo, falam com as mãos. Como? Através de uma linguagem de sinais. Assim como existem as letras A, B, C, e todas as outras para serem escritas no papel, na lousa, na mesa (opa! na mesa não...) existem também gestos de letras. É só mexer os dedos direitinho que a gente consegue escrever qualquer palavra no ar. Mas tome muito cuidado! Não tente fazer isso sem a ajuda de um especialista, senão você pode dar nó nos dedos! Também é perigoso fazer algum gesto que... bem, você sabe...
Tem gente que tem não tem problema nenhum na língua nem no nariz, mas que não consegue sentir cheiro nem gosto direito. Nestes casos, o problema é o tempo. Quando faz muito frio o nariz da gente fica tampado, a boca fica seca e a nossa língua não consegue sentir direito toda a delícia de uma saborosa macarronada. Aliás, você sabia que boa parte do gosto que a gente sente não é gosto, mas cheiro? Por isso que com o nariz entupido a gente come menos. E você já viu alguém tampando o nariz prá tomar xarope? Pode não ser 100%, mas até que ajuda...
Já imaginou não poder sentir frio, nem calor, nem dor? Dor eu dispenso, mas o calorzinho de um dia de verão, o ar frio batendo no rosto quando a gente abre a geladeira... isso eu faço questão de sentir. A martelada na mão eu não preciso sentir, nem o corte no dedo. Epa, mas se eu não sentir o corte no dedo, como é que vou saber que estou cortando o dedo? Posso até ficar sem dedo! Cruz-credo! Tá bom, nem a dor no dedo eu dispenso!
Só sei de uma coisa: se a gente não pudesse cheirar, tocar, sentir o sabor, ouvir e ver o mundo, seria melhor que não existisse mundo. Afinal, mundo só é mundo porque a gente sente que ele existe!