sábado, 31 de julho de 2010

Lições sobre "obviedades"...

Depois de levar alguns "sustos" com meus pais, resolvemos que vamos fazer uma festinha de aniversário para minha mãe. Ela não queria, disse que não precisava se incomodar, mas conseguimos convencê-la de que uma "Festa Julina" poderia se transformar num "Parabéns à você". Resultado: vamos fazer uma festa de aniversário temática! O Miguel teve uma "ideia" para organizar o pessoal:
- A Larissa vai de vestido caipira, a Clara não. O Paulinho vai de capiria, eu não. A tia Paula vai de caipira, o tio Rubi não...
A Clara começou a resmungar.
- Eu quélo ir de caipila, mãe. Eu quélo por meu bistidinho...
Eu, que não estava entendendo muito bem a "brilhante ideia" do Miguel, questionei:
- Por que isso, Miguel? Quem quiser ir de caipira, vai! Você num precisa ficar selecionando!
E ele explicou:
- Ué, mãe, se vai ser uma Festa Julina junto com a Festa de Aniversário da vovó, metade tem que ir de caipira e metade tem que ir com roupa de festa. Entendeu?
Mãe lerrrrrrrrrda... isso era óbvio, né!

terça-feira, 27 de julho de 2010

Lições sobre "surpreender"...

Nestas férias eu confesso que não estou muito "inspirada" prá sair com as crianças. Outro dia fomos em uma praça. O Mi levou a bicicleta e a Clara saiu de casa carregando seus apetrechos para brincar na areia, mas o passeio foi interrompido quando um rapaz (aparentemente drogado) começou a pular como um louco em cima de um cesto de lixo e gritar coisas sem nexo. Voltamos prá casa correndo!
Ontem levei os pequenos ao shopping prá comermos um lanche (aqueles que vem com o brinquedinho, sabe...). Quando chegamos do passeio o Miguel ainda estava com o maior pique. Eu sentei no computador prá tentar trabalhar um pouco e ele e a Clara foram pro quintal brincar de bola com o Kiwi. De 10 em 10 minutos o Miguel aparecia com uma coisa prá eu fazer.
- Mão, pega um pedaço de papel prá mim?
- Mãe, você pega uma caneta?
- Mãe, escreve aqui nesse papel "Para Rosângela, do seu marido Tiago".
Eu estranhei, mas atendi ao pedido.
Depois vi o Mi passando por trás da minha cadeira com um pedaço de pau.
- Cuidado, hein, Miguel! Num vai se machucar nem machucar a sua irmã. E muito menos o cachorro, hein, meu filho!
Um tempinho depois ele chega correndo.
- Mãe... acho que tem alguma coisa prá você na caixa do correio! Pode deixar que eu pego.
Ele voltou com uma flor do meu jardim, o pedaço de papel escrito e uma cara de surpresa.
- Olha, mãe! Acho que foi o papai que deixou prá você!
Eu também fingi estar surpresa.
-  Que flor linda!
E ele insistiu:
- Lê a carta, mãe.
E eu li a frase que eu mesma tinha escrito.
- Para Rosângela, do seu marido Tiago!
- Você gostou, mãe?
Sem saber muito bem o que dizer, eu falei:
- Nossa, que surpresa! Eu amei!
E ele, com aquela cara linda e toda a ingenuidade que eu tanto admiro nas crianças, disse:
- Ahaha! Te enganei! Fui eu que coloquei lá! Eu bati na sua flor com o pau até ela cair e depois peguei prá te dar! Gostou, mãe?
Primeiro eu pensei em dar uma bronca nele. Depois eu resolvi só agradecer. Na verdade eu até gostei da "surpresa"... a flor é que não deve ter gostado muito!

domingo, 18 de julho de 2010

Lições sobre o uso do vaso sanitário...

O mãenistério da saúde adverte: esse post pode causar náuseas, vômitos e, eventualmente, o desejo de adiar uma possível gravidez.

O meu maior desafio atualmente (mais do que concluir minha dissertação de mestrado, mais do que acertar os números na Mega-Sena) tem sido convencer a Clara a fazer cocô na privada. Não adianta! O xixi ela já aprendeu a segurar direitinho e com isso eu não preciso me preocupar, a menos que ela esteja muito entretida em alguma brincadeira - aí eu tenho que pegar ela a força e por no piniquinho. Mas o cocô... esse não tem acordo. Eu já tentei de tudo: falei que tem um "cocô pai" dentro da privada esperando pelo "cocô filho", já tentei colar adesivos na tampa do vaso sanitário, já prometi uma chineladinhas na bunda (que o Ministério público não me ouça!), mas nada disso funcionou.
Hoje, como não poderia ser diferente, ela se escondeu num cantinho da casa para encher a calcinha. Depois me chamou:
- Mãããããe... a Clara fez cocô!
Eu, já com a cara fechada e o discurso pronto, fui procurá-la.
- Clara, o que foi que você fez?
Então ela pôs as mãozinhas na cabeça, exatamente como eu faço, e começou:
- Que coisa horríviu, Clara! Fedorenta! Onde que tem que fazer esse cocô? Na pivaaaaaaaaaaaaaada! Na pivaaaaaaaaaaaaada!
Me deu um acesso de riso... ou a Clara tem poderes sobrenaturais e adivinhou o que ia dizer ou eu é que estou muito repetitiva e preciso mudar o discurso!
Em tempo: PELO AMOR DE DEUS! Alguém tem alguma dica de como eu faço prá uma criança de 2 anos e meio fazer cocô na privada e me livrar prá sempre dessas calcinhas melecadas? Pleaaaaaaaaaaaaaaase...

O segundo filho

Eu nunca, desde que me casei, pensei em ter apenas um filho. Em casa somos em duas, meu marido tem duas irmãs, enfim, ter pelo menos dois filhos era algo já decidido para mim. Mas, como vocês já sabem, eu tive alguns probleminhas que poderiam ter me deixado, no mínimo, traumatizada com a idéia de um novo bebê. No entanto, isso não aconteceu! Mesmo depois da depressão pós-parto, da luta prá amamentar, do choro constante, eu estava certa de que teria mais filhos. A questão era: quando?
Em 2006 eu, já formada em Pedagogia, decidi prestar vestibular novamente. Passei e fui fazer Letras, na Unesp. Minha intenção era fazer mestrado e doutorado, mas eu não conseguiria um orientador se não estivesse no meio acadêmico, por isso optei por fazer uma nova graduação. Logo na primeira semana de aula eu conheci a Profª Dra. Alessandra Del Ré (minha orientadora) e conversei com ela sobre o projeto. Fiz um curso de extensão universitária, me inscrevi num estágio departamental, fui me enfiando em reuniões, etc, etc, etc. O Miguel ia na escolinha de manhã, eu ficava com ele à tarde e à noite, enquanto eu ia prá faculdade, ele ficava em casa com uma moça. O Dê também estava na faculdade nessa época, então as coisas não eram tão fáceis. Ainda assim conseguíamos dar conta de tudo. No segundo ano do curso de Letras eu comecei a preparar o meu projeto de mestrado. Como eu tinha planos para, pelo menos, os próximos 3 anos, combinamos que eu ficaria grávida só depois que terminasse o mestrado. Eu nunca gostei de tomar anticoncepcional, então sempre nos preveníamos usando preservativo. Qual não foi a minha surpresa quando, depois de um considerável atraso na mestruação, eu descobri que a Clara estava a caminho. Era maio e, pelas minhas contas, o bebê nasceria em janeiro. Se eu prestasse o mestrado naquele ano eu pegaria licença logo no primeiro semestre (o que não seria nada bom para o andamento da pesquisa). Por esse motivo eu decidi, juntamente com a minha orientadora, que deixaria prá prestar o mestrado no ano seguinte. Sinceramente não foi uma decisão tão difícil de ser tomada! Prá quem já tinha esperado tanto (eu me formei em Pedagogia em 2000), um ano a mais, um ano a menos, não faria diferença. A gestação foi novamente muito tranquila, sem enjôos nem complicações e todo mundo, lembrando do que passei com o Miguel, me dizia: "Fique tranquila, uma filho nunca é igual ao outro". Isso me trazia um conforto, uma certeza de que com a Clara seria tudo muito mais fácil.
Bem, nem tudo é como a gente pensa que é! O parto do Miguel foi uma beleza, no da Clara eu tive uma hemorragia na sala de recuperação. Foi estranho porque todas as mulheres que estava ali estavam com frio, com cobertores, e eu sentia um calor, um mal estar... Pedi que a enfermeira tirasse o cobertor de cima de mim e, quando ela o fez, a mulher que estava ao lado (a mãe de um ex-aluno meu que também tinha acabado de ter seu bebê) me disse: "Ore a Deus, Ro! Você tá de sangue até o pescoço!" Eu levei um susto! Foi uma correria, chamaram o meu médico, me aplicaram um injeção que eu, mesmo anestesiada, senti a dor. As enfermeiras então começaram a fazer um massagem tão forte que eu pensava "Agora esse corte vai abrir!". Com essa massagem eu expeli um coágulo de sangue que assustou até a enfermeira que estava ali. Me limparam, trocaram os lençóis e eu vi todo mundo indo embora daquela sala de recuperação, menos eu. Fui pro quarto exatamente na hora da visita. Fiquei 5 horas e meia na sala de recuperação. Quando o Dê chegou, eu falei que tinha tido uma hemorragia. Ninguém tinha avisado nada. Eu estava toda roxa, dolorida, preocupada, mas não via a hora de colocar a Clara no peito prá saber se ela ia mamar. Quando ela chegou, sugou com força e eu fiquei aliviada. Deu tchauzinho pro Miguel pela janela, chorei um pouco de saudade do meu filhão, mas fiquei mais tranquila. A Clara parecia um anjinho, dormindo tão bem ali no hospital, tão tranquila. No entanto, quando chegamos em casa, percebi que aquela história de "um filho não é igual ao outro" não funcionaria bem desse jeito comigo. Logo na primeira consulta, mediante o que eu disse pro médico, constatamos que a Clara também tinha refluxo. Ela vomitava quase todo o leitinho que mamava, chorava muito e, para piorar, tinha alergia à proteína do leite de vaca. Eu tive que parar de tomar leite durante o período de amamentação, senão ela ficava com o bumbunzinho em carne vida - até sangrava, tadinha.
Como estávamos construindo nossa casa, nos mudamos para um apartamento. Teve um dia que a vizinha de baixo apareceu na janela e me perguntou: "Você tem chá de camomila aí na sua casa?". Eu não entendi bem o porque da pergunta, pensei "Será que ela quer me convidar prá tomar um chá de boas vindas?" e respondi que não tinha, não. Ela então jogou um pacote de chá na minha porta e disse, sem muita paciência: "Então toma esse, dá um chá prá essa menina prá ver se ela pára com esse berreiro!". Naquela hora eu soube que com a Clara as coisas também não seriam simples! Numa coisa eu fui mais esperta. Fui fazendo tudo do meu jeito! Minha mãe e minha irmã queriam ir me ajudar, mas eu fui firme e avisei que elas poderiam ir me visitar, mas que eu não queria ninguém ali na minha casa o tempo todo, que eu iria me virar sozinha. E me virei bem, diga-se de passagem. Não tive a tão temida depressão pós-parto, mas entrei em desespero algumas vezes ao ver aquela bebezinha tão linda chorando tanto. O Miguel ficou bastante enciumado no início - voltou a usar fraldas à noite, descontava toda a raiva em mim, fazia xixi no meu sofá novo de propósito. Acho que isso e o choro constante da Clara eram as coisas que mais me judiavam. Mas eu estava mais tranquila com este segundo bebê.
Depois que a Clara completou dois meses eu voltei a frequentar as reuniões do grupo de estudos da faculdade e retomei o projeto de mestrado. Quando eu voltei a trabalhar (eu trabalhava de manhã em uma escola e à tarde em outra, numa rotina de mais ou menos 10h diárias), eu me sentia muito cansada, mas ainda assim arranjava forças prá estudar prá prova do mestrado. Eu lia a bibliografia da prova durante as madrugadas e estudava francês aos sábados, para a proficiencia . Foi bem difícil, mas quando eu tive o resultado das provas e soube que tinha passado com uma boa nota, pensei que tudo aquilo tinha valido a pena!
Hoje sei que, embora eu não tivesse planejado a Clara para aquele momento, ela veio na hora certa, como um presente prá nós. Tem gente que diz que depois que se tem filhos a gente não consegue fazer mais nada do que fazia antes. Não é verdade! Nem a Clara, nem o Miguel me atrapalham em nada. É claro que meus horários são organizados de acordo com a rotina deles, e hoje em dia não é possível ser mãe, trabalhar e estudar ao mesmo tempo sem a ajuda de uma escolinha de Educação Infantil ou dos avós. No entanto, é maravilhoso ver como a minha vida mudou prá melhor depois do Miguel e da Clara. Não me imagino sem eles!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Tiradas infantis...

Outro dia a Clara levou um cachorrinho de pelúcia lá na Igreja. Prá puxar conversa, o pastor falou prá ela:
- Olha, que lindo seu cachorrinho, Clara! Posso segurar na perna dele?
E ela respondeu:
- Não!
- Não? - perguntou o pastor, meio sem graça.
- Não é péina, pastoi. É pata!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

6 razões para não ter filhos... (5ª razão)

5ª razão
FILHOS NÃO SE ESQUECEM!
Depois que tive filhos nunca mais passei um aniversário ou um dia das mães sem receber presentes ou cartinhas. É claro que no início são os pais ou professores que se "lembram" dessas datas e instigam as crianças, mas depois de algum tempo os próprios filhos se encarregam de marcar estes momentos com carinhos. Crianças têm memória de elefante - e, acrescento, de curto, médio e longo prazo!
Assim como não se esquecem das datas comemorativas que estão a nosso favor, também não se esquecem de pedir quando o benefício é prá elas, e muito menos de cobrar aquilo que você prometeu. O problema é que para agradar, muitas vezes, os pais prometem aquilo que não podem cumprir... e aí começa o problema.
Prometer o que está além do seu alcance só despertará na criança uma ansiedade e frustração desnecessárias. Crianças parecem ingênuas, mas são muito espertas. Na primeira vez seu filho ficará realmente esperando que você cumpra e que disse, depois de um tempo verá que você, na verdade, só queria que ele se calasse naquele momento. É nessa hora que ele aprenderá que SUA palavra não tem valor!
Aquilo que fazemos molda o caráter dos nossos filhos. Quando o que falamos não é necessariamente aquilo que fazemos, estamos ensinando à criança que ela também não precisa se preocupar em ser honesta conosco. E isso se aplica ainda mais nas situações corriqueiras do cotidiano. Se você diz ao seu filho que o levará ao parque no final de semana, mas acaba marcando horário com a manicure (que compromisso inadiável!) e deixa o passeio para outro dia, você até poderá se esquecer disso, mas ele não. Ele se lembrará do passeio no dia em que você marcou, mas, pior que isso, ele sempre se lembrará que você não o levou NAQUELE final de semana. Sabe aquela história de ir viajar e dizer "A mamãe vai na padaria e já volta?". Pois seu filho se lembrará de sua demora toda vez que você realmente for à padaria. E quando seu filho fizer algo errado e você disser que ele está de castigo, por favor, deixe-o de castigo (ainda que esse castigo seja, também, um castigo prá você). De que adianta dizer que ele ficará 1 ano sem televisão se você só conseguirá fazer com que ele cumpra um dia do combinado? Ou você propõe um castigo que poderá cobrar ou, então, é melhor não deixar seu filho de castigo.
Ah, e quando você disser ao seu filho que é feio falar palavrão ou mentir, saiba que será a primeira coisa que ele repetirá quando você falar palavrões ou mentiras. Depois ele se lembrará que, assim como você disse, ele também pode dizer!
O que leva os pais a mentirem tanto para os seus filhos? Por que é tão difícil ser honesto com crianças? Por que tantos pais delegam a responsabilidade da formação do caráter de seus fihos para os outros? Não há mais prazer em compartilhar momentos com aqueles que mais dependem de nós? Não há mais amor suficiente para ser fiel à relação de pai e filho? Ou será que estamos tão envoltos nessa atmosfera de desonestidade, de falsidade e esquecimento que não conseguimos mais ser sinceros nem mesmo com uma criança?
Bem, se você costuma fazer promessas que não poderá cumprir; se está habituado a dizer uma coisa e fazer exatamente o contrário; se você sofre de perda de memória recente (?!?); se acha que uma mentirinha, só de vez em quando, não faz mal; se, para fugir de suas responsabilidades, você costuma inventar desculpas (ainda que sejam boas desculpas!), é melhor você não ter filhos. Filhos vêm equipados com "dispositivo de memória" já de fábrica, não é ítem opcional. E não queremos que eles se lembrem apenas do que deveriam esquecer, não é mesmo...

terça-feira, 6 de julho de 2010

Tiradas infantis...

Não tem nada mais desconcertante do que levar uma "tirada", não é mesmo? Imagine, então, quando essa "tirada" vem de uma criança de 2 anos e meio? Pois foi exatamente isso que aconteceu comigo na semana passada.
Eu fico um pouco incomodada quando as crianças perguntam alguma coisa pro Dê e ele, distraído com a televisão, não responde. Pois enquanto ele estava sentado no sofá assistindo algum programa "super interessante" (!), a Clara, escutando os cachorros do vizinho fazerem a maior barulheira, perguntava insistentemente:
- Pai, que é isso?
Nada.
- Que é isso, pai?
...
- Paaai, que é isso?
Eu, percebendo que o silêncio continuaria até o programa acabar, respondi:
- É o cachorro do Eduardo que está latindo, Clara.
E ela, sem dó nem piedade, falou:
- Você chama pai?
Acho que nunca fiquei tão desconcertada com uma "tirada"! Eu ri (aquele sorriso amarelo) e respondi:
- Puxa vida, hein, minha filha...
E ela completou:
- Você chama mãe! - e saiu balançando os bracinhos.
Ainda bem que ninguém viu a cena! Da próxima vez não falo mais nada.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Depressão pós-parto.

Antes de mais nada, quero dizer que o que vou contar aqui é uma experiência pessoal. Não sou médica, psicóloga ou outra coisa do tipo, por isso meu relato é apenas o de uma mulher que vivenciou, juntamente com a alegria da chegada de seu primeiro filho, um sentimento estranho e confuso: a depressão pós-parto.
Minha primeira gestação, apesar do desgaste de uma rotina de quase 10 horas de trabalho diário, foi tranquila. Eu não passei mal nem me senti indisposta. Apenas sentia muito sono, mas isso não é novidade durante a gestação. O parto do Miguel também foi tranquilo, sem complicações, e todos estavam felizes com a chegada dele. Eu sempre imaginei que seria imensa a emoção de ver pela primeira vez um bebê que você sentiu por nove meses crescendo dentro de você. Mas há emoções dos mais diversos tipos, e eu experimentei algumas que, sinceramente, não estavam no meu "roteiro" de mãe.
Talvez isso não aconteça com todas as mães... talvez não aconteça com a mesma mãe em duas gestações diferentes... bem, estou falando da sensação de estranhamento quando chegamos em casa com o nosso bebê. Por mais que eu tenha convivido com ele, por mais que tenha conversado com ele enquanto ele estava sendo gerado, por mais que tenha o desejado e me emocionado com a sua chegada, não há como negar: o bebê que estava ali era alguém absolutamente desconhecido prá mim. Uma insegurança imensa me acompanhou quando saí da maternidade. Eu não sabia se tinha leite suficiente, se estava me alimentando corretamente, se devia pegar o bebê quando ele chorava ou se o deixava no carrinho para que não se acostumasse só com o colo... meu Deus! Eu sempre fui muito decidida, muito consciente, mas naquele momento eu me sentia totalmente desprovida de capacidade de decisão. Além de todas as "neuras" comuns nesta fase, o Miguel ainda teve aquele probleminha prá mamar, e chorava todos os dias - o dia todo! Eu me desesperava a cada dia. Fechava a casa, apagava a luz, chorava, chorava, chorava, ligava pro médico o tempo todo, chorava, chorava, chorava... Aquela situação era assustadora! Quando eu ia dar banho ou amamentar o Mi eu via - não me julguem! - não um bebê, mas um feto morto. Quando ele chorava eu dizia eu voz baixa "Ele não gosta de mim, ele está me rejeitando". Sei que todos os conselhos e dicas de "o que fazer" e "como fazer" estavam recheados de boas intenções, mas eu estava tão perdida que tudo o que me diziam só reforçava em mim o sentimento de que eu não era capaz de cuidar de uma bebê sozinha. Lembro que uma pessoa bastante próxima (que nem foi me visitar pessoalmente!), me ligou dando uma bronca porque eu devia estar comendo muito feijão e verdura, por isso meu filho tinha tanta cólica! Todos acabavam dando um "pitaco". "Ele tem que tomar banho à tarde prá não passar frio", e lá ia eu acordar o Miguel às 15h prá dar banho - mesmo que ele tivesse dormido às 14h - e deixá-lo ainda mais nervoso por não ter dormido direito. "Ele tem que dormir de bruços, prá passar a cólica", e eu ficava desesperada porque nessa posição ele vomitava todo o leitinho que tinha mamado. Minha mãe, por mais que tentasse me ajudar, acabava me deixando ainda menos à vontade. Eu precisava tomar um banho, ou ir ao banheiro, por isso deixava o Mi no carrinho. Como ele chorava o tempo todo, eu não tinha escolha: tinha que deixá-lo ali, mesmo que ele estivesse esgoelando. Ela então me olhava com aquela cara de reprovação, pegava o Miguel no colo e me dizia que não ia deixar aquela criança chorando daquele jeito. Mas ele não parava de chorar! Não havia meios de esperar que ele se acalmasse para que eu pudesse ir fazer xixi... Aquela situação me deixava ainda pior, por que eu me sentia egoísta por deixá-lo chorando, e pensava: "Ele não gosta de mim".
Quando levei o Miguel ao pediatra pela 5ª vez em 15 dias e, chorando, disse que não aguentava mais aquela situação, o médico me disse que eu estava com depressão pós-parto. Ele me disse que eu poderia tomar medicamentos - hipótese que eu nem cogitei - ou poderia tentar, por mim mesmo, reverter aquela situação. Ele me incentivou a cuidar do Miguel do meu jeito, a receber visitas, a sair de casa (mesmo que ele estivesse chorando), a permitir que as pessoas vissem como meu bebê estava crescendo e engordando. Mesmo vivendo um pequeno drama tentando amamentar o Miguel, eu escutei as palavras do pediatra e decidi que aquela tristeza não poderia roubar a alegria de ter meu filho ali comigo.
Quando o Miguel finalmente começou a mamar no peito - ainda chorando o tempo todo - eu vi que o sol começaria a brilhar na minha casa, que andava muito escura ultimamente. Quando o Miguel completou 1 mês e meio nós descobrimos que o choro dele não tinha nada a ver com falta de colo, com fome por causa de pouco leite ou com cólica por causa da minha alimentação. O Miguel tinha refluxo. Fizemos uma cintilografia, ele começou a ser medicado e, aos poucos, eu percebi que aquela história de "bebê que mama a cada 3 horas e dorme até a próxima mamada" poderia não ser exatamente a minha história. Eu teria que criar a minha rotina com o meu bebê. Percebi que quando dava um banho nele lá pelas 19h ele ficava mais relaxado e dormia um pouco melhor à noite. Abandonei o banho no meio da tarde! Também fui orientada pelo pediatra a deixá-lo sempre com a cabecinha mais alta por causa do refluxo -NUNCA de bruços. Percebi que, também por causa do refluxo, o Miguel teria que mamar uma quantidade menor de leite, porém mais vezes por dia - a barriguinha não poderia ficar cheia, senão ele vomitaria tudo o que tinha mamado. Enfim, aos poucos fui me ajeitando com meu pequeno desconhecido.
Quando o Miguel completou 4 meses o choro diminuiu um pouco e, apesar de ter que voltar a trabalhar, eu me sentia segura de que tudo estava correndo bem.
Hoje, quando visito uma amiga ou conhecida que acabou de ter um bebê, a primeira coisa que pergunto é "Como você está?". Sei que todas as atenções estão sempre voltadas para o bebê, mas sei também que, por mais que possa parecer estranho, uma mãe pode precisar falar de sua "tristeza" nesse momento de tanta alegria.
Sei que não fui a primeira e nem serei a última, mas é necessário desmistificar algumas coisas com relação a esse assunto tão delicado, para que todas as emoções de ser mãe possam ser vivenciadas de forma saudável, mesmo que algumas não estejam no nosso "roteiro"...