quarta-feira, 10 de março de 2010

Lições sobre responsabilidade...

Sempre olho a mochila do Miguel prá ver se ele tem tarefa pro dia seguinte. Confesso: prá uma mãe-professora, sou ótima mãe, péssima professora! Tem dias em que passo óleo de peroba na cara e chego na escola do Mi dizendo que não deu tempo de fazer a tarefa porque deixei que ele brincasse um pouco. Sim, eu sei... tarefa é sagrada! Mas, fala a verdade, tem coisa mais chata?!?
Bem, ontem não pude fazer a tarefa com o Miguel - precisei sair e quando cheguei ele já estava dormindo. De manhã coloquei a pastinha com as folhas da tarefa e o estojo com os lápis dentro da mochila. Pedi ao Dê que fizesse a atividade com ele na hora do almoço. Adivinhem? É claro que ele não fez! O Miguel fez sozinho, de qualquer jeito (é claro!), com caneta azul e, prá piorar, a Clara fez uma bela assinatura no meio da folha. Um horror! Dessa vez nem dando duas camadas de óleo de peroba!!! Quando fui deixá-lo na escola, comecei me desculpando e terminei pedindo outra folha de tarefa. "Faço com ele ainda hoje e ele traz amanhã, professora". Tudo combinado...
Combinei também de ir à noite visitar uma amiga. Não nos víamos há algum tempo e as crianças se divertiram brincando juntas. Chegamos tarde - mais de dez horas. Ajudei o Miguel a escovar os dentes (a Clara já estava dormindo), ele tomou um copo de leite e trocou de roupa. Quando ia deitar na cama, ele lembrou:
- Mãe, e a minha tarefa?
- Amanhã a gente faz, filho. Agora tá na hora de dormir.
Ele ficou indignado:
- Mas mãe, você prometeu prá tia que ia fazer hoje comigo...
- Num tem problema, Miguel, a gente faz amanhã na hora do almoço, entrega prá sua professora e pronto. Agora dorme.
- Não, mãe. De jeito nenhum. Tarefa é trabalho. Tem que fazer no mesmo dia. Por acaso você já viu o pai entregar uma etiqueta toda rasgada e borrada depois do dia que ele combinou? Não... ele entrega no mesmo dia, e bonitinha. Porque senão ele não vende mais.
- Eu sei, filho, mas você já viu o seu pai trabalhando às dez horas da noite? Não, não é mesmo?
Ele, então, me olhou com ar de reprovação e concluiu:
- Mãe, que coisa mais feia! Você falou que ia fazer a tarefa hoje comigo! Você mentiu, é?
Golpe baixo!!! Quero saber quem ensinou essa criança a fazer isso!
- Tá bom, meu filho. Mas depois não vai falar que tá com dor no olho, dor na mão...
- Eu aguento, mãe. Eu aguento tudo! Tenho que fazer essa tarefa!
Fizemos a tarefa - tudo no maior capricho. E prá terminar, ele ainda soltou essa.
- Tá vendo, mãe... foi rapidinho. Doeu?
Não, Miguel... não doeu. Ou melhor: doeu... a minha consciência!

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