domingo, 18 de julho de 2010

O segundo filho

Eu nunca, desde que me casei, pensei em ter apenas um filho. Em casa somos em duas, meu marido tem duas irmãs, enfim, ter pelo menos dois filhos era algo já decidido para mim. Mas, como vocês já sabem, eu tive alguns probleminhas que poderiam ter me deixado, no mínimo, traumatizada com a idéia de um novo bebê. No entanto, isso não aconteceu! Mesmo depois da depressão pós-parto, da luta prá amamentar, do choro constante, eu estava certa de que teria mais filhos. A questão era: quando?
Em 2006 eu, já formada em Pedagogia, decidi prestar vestibular novamente. Passei e fui fazer Letras, na Unesp. Minha intenção era fazer mestrado e doutorado, mas eu não conseguiria um orientador se não estivesse no meio acadêmico, por isso optei por fazer uma nova graduação. Logo na primeira semana de aula eu conheci a Profª Dra. Alessandra Del Ré (minha orientadora) e conversei com ela sobre o projeto. Fiz um curso de extensão universitária, me inscrevi num estágio departamental, fui me enfiando em reuniões, etc, etc, etc. O Miguel ia na escolinha de manhã, eu ficava com ele à tarde e à noite, enquanto eu ia prá faculdade, ele ficava em casa com uma moça. O Dê também estava na faculdade nessa época, então as coisas não eram tão fáceis. Ainda assim conseguíamos dar conta de tudo. No segundo ano do curso de Letras eu comecei a preparar o meu projeto de mestrado. Como eu tinha planos para, pelo menos, os próximos 3 anos, combinamos que eu ficaria grávida só depois que terminasse o mestrado. Eu nunca gostei de tomar anticoncepcional, então sempre nos preveníamos usando preservativo. Qual não foi a minha surpresa quando, depois de um considerável atraso na mestruação, eu descobri que a Clara estava a caminho. Era maio e, pelas minhas contas, o bebê nasceria em janeiro. Se eu prestasse o mestrado naquele ano eu pegaria licença logo no primeiro semestre (o que não seria nada bom para o andamento da pesquisa). Por esse motivo eu decidi, juntamente com a minha orientadora, que deixaria prá prestar o mestrado no ano seguinte. Sinceramente não foi uma decisão tão difícil de ser tomada! Prá quem já tinha esperado tanto (eu me formei em Pedagogia em 2000), um ano a mais, um ano a menos, não faria diferença. A gestação foi novamente muito tranquila, sem enjôos nem complicações e todo mundo, lembrando do que passei com o Miguel, me dizia: "Fique tranquila, uma filho nunca é igual ao outro". Isso me trazia um conforto, uma certeza de que com a Clara seria tudo muito mais fácil.
Bem, nem tudo é como a gente pensa que é! O parto do Miguel foi uma beleza, no da Clara eu tive uma hemorragia na sala de recuperação. Foi estranho porque todas as mulheres que estava ali estavam com frio, com cobertores, e eu sentia um calor, um mal estar... Pedi que a enfermeira tirasse o cobertor de cima de mim e, quando ela o fez, a mulher que estava ao lado (a mãe de um ex-aluno meu que também tinha acabado de ter seu bebê) me disse: "Ore a Deus, Ro! Você tá de sangue até o pescoço!" Eu levei um susto! Foi uma correria, chamaram o meu médico, me aplicaram um injeção que eu, mesmo anestesiada, senti a dor. As enfermeiras então começaram a fazer um massagem tão forte que eu pensava "Agora esse corte vai abrir!". Com essa massagem eu expeli um coágulo de sangue que assustou até a enfermeira que estava ali. Me limparam, trocaram os lençóis e eu vi todo mundo indo embora daquela sala de recuperação, menos eu. Fui pro quarto exatamente na hora da visita. Fiquei 5 horas e meia na sala de recuperação. Quando o Dê chegou, eu falei que tinha tido uma hemorragia. Ninguém tinha avisado nada. Eu estava toda roxa, dolorida, preocupada, mas não via a hora de colocar a Clara no peito prá saber se ela ia mamar. Quando ela chegou, sugou com força e eu fiquei aliviada. Deu tchauzinho pro Miguel pela janela, chorei um pouco de saudade do meu filhão, mas fiquei mais tranquila. A Clara parecia um anjinho, dormindo tão bem ali no hospital, tão tranquila. No entanto, quando chegamos em casa, percebi que aquela história de "um filho não é igual ao outro" não funcionaria bem desse jeito comigo. Logo na primeira consulta, mediante o que eu disse pro médico, constatamos que a Clara também tinha refluxo. Ela vomitava quase todo o leitinho que mamava, chorava muito e, para piorar, tinha alergia à proteína do leite de vaca. Eu tive que parar de tomar leite durante o período de amamentação, senão ela ficava com o bumbunzinho em carne vida - até sangrava, tadinha.
Como estávamos construindo nossa casa, nos mudamos para um apartamento. Teve um dia que a vizinha de baixo apareceu na janela e me perguntou: "Você tem chá de camomila aí na sua casa?". Eu não entendi bem o porque da pergunta, pensei "Será que ela quer me convidar prá tomar um chá de boas vindas?" e respondi que não tinha, não. Ela então jogou um pacote de chá na minha porta e disse, sem muita paciência: "Então toma esse, dá um chá prá essa menina prá ver se ela pára com esse berreiro!". Naquela hora eu soube que com a Clara as coisas também não seriam simples! Numa coisa eu fui mais esperta. Fui fazendo tudo do meu jeito! Minha mãe e minha irmã queriam ir me ajudar, mas eu fui firme e avisei que elas poderiam ir me visitar, mas que eu não queria ninguém ali na minha casa o tempo todo, que eu iria me virar sozinha. E me virei bem, diga-se de passagem. Não tive a tão temida depressão pós-parto, mas entrei em desespero algumas vezes ao ver aquela bebezinha tão linda chorando tanto. O Miguel ficou bastante enciumado no início - voltou a usar fraldas à noite, descontava toda a raiva em mim, fazia xixi no meu sofá novo de propósito. Acho que isso e o choro constante da Clara eram as coisas que mais me judiavam. Mas eu estava mais tranquila com este segundo bebê.
Depois que a Clara completou dois meses eu voltei a frequentar as reuniões do grupo de estudos da faculdade e retomei o projeto de mestrado. Quando eu voltei a trabalhar (eu trabalhava de manhã em uma escola e à tarde em outra, numa rotina de mais ou menos 10h diárias), eu me sentia muito cansada, mas ainda assim arranjava forças prá estudar prá prova do mestrado. Eu lia a bibliografia da prova durante as madrugadas e estudava francês aos sábados, para a proficiencia . Foi bem difícil, mas quando eu tive o resultado das provas e soube que tinha passado com uma boa nota, pensei que tudo aquilo tinha valido a pena!
Hoje sei que, embora eu não tivesse planejado a Clara para aquele momento, ela veio na hora certa, como um presente prá nós. Tem gente que diz que depois que se tem filhos a gente não consegue fazer mais nada do que fazia antes. Não é verdade! Nem a Clara, nem o Miguel me atrapalham em nada. É claro que meus horários são organizados de acordo com a rotina deles, e hoje em dia não é possível ser mãe, trabalhar e estudar ao mesmo tempo sem a ajuda de uma escolinha de Educação Infantil ou dos avós. No entanto, é maravilhoso ver como a minha vida mudou prá melhor depois do Miguel e da Clara. Não me imagino sem eles!

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