segunda-feira, 5 de julho de 2010

Depressão pós-parto.

Antes de mais nada, quero dizer que o que vou contar aqui é uma experiência pessoal. Não sou médica, psicóloga ou outra coisa do tipo, por isso meu relato é apenas o de uma mulher que vivenciou, juntamente com a alegria da chegada de seu primeiro filho, um sentimento estranho e confuso: a depressão pós-parto.
Minha primeira gestação, apesar do desgaste de uma rotina de quase 10 horas de trabalho diário, foi tranquila. Eu não passei mal nem me senti indisposta. Apenas sentia muito sono, mas isso não é novidade durante a gestação. O parto do Miguel também foi tranquilo, sem complicações, e todos estavam felizes com a chegada dele. Eu sempre imaginei que seria imensa a emoção de ver pela primeira vez um bebê que você sentiu por nove meses crescendo dentro de você. Mas há emoções dos mais diversos tipos, e eu experimentei algumas que, sinceramente, não estavam no meu "roteiro" de mãe.
Talvez isso não aconteça com todas as mães... talvez não aconteça com a mesma mãe em duas gestações diferentes... bem, estou falando da sensação de estranhamento quando chegamos em casa com o nosso bebê. Por mais que eu tenha convivido com ele, por mais que tenha conversado com ele enquanto ele estava sendo gerado, por mais que tenha o desejado e me emocionado com a sua chegada, não há como negar: o bebê que estava ali era alguém absolutamente desconhecido prá mim. Uma insegurança imensa me acompanhou quando saí da maternidade. Eu não sabia se tinha leite suficiente, se estava me alimentando corretamente, se devia pegar o bebê quando ele chorava ou se o deixava no carrinho para que não se acostumasse só com o colo... meu Deus! Eu sempre fui muito decidida, muito consciente, mas naquele momento eu me sentia totalmente desprovida de capacidade de decisão. Além de todas as "neuras" comuns nesta fase, o Miguel ainda teve aquele probleminha prá mamar, e chorava todos os dias - o dia todo! Eu me desesperava a cada dia. Fechava a casa, apagava a luz, chorava, chorava, chorava, ligava pro médico o tempo todo, chorava, chorava, chorava... Aquela situação era assustadora! Quando eu ia dar banho ou amamentar o Mi eu via - não me julguem! - não um bebê, mas um feto morto. Quando ele chorava eu dizia eu voz baixa "Ele não gosta de mim, ele está me rejeitando". Sei que todos os conselhos e dicas de "o que fazer" e "como fazer" estavam recheados de boas intenções, mas eu estava tão perdida que tudo o que me diziam só reforçava em mim o sentimento de que eu não era capaz de cuidar de uma bebê sozinha. Lembro que uma pessoa bastante próxima (que nem foi me visitar pessoalmente!), me ligou dando uma bronca porque eu devia estar comendo muito feijão e verdura, por isso meu filho tinha tanta cólica! Todos acabavam dando um "pitaco". "Ele tem que tomar banho à tarde prá não passar frio", e lá ia eu acordar o Miguel às 15h prá dar banho - mesmo que ele tivesse dormido às 14h - e deixá-lo ainda mais nervoso por não ter dormido direito. "Ele tem que dormir de bruços, prá passar a cólica", e eu ficava desesperada porque nessa posição ele vomitava todo o leitinho que tinha mamado. Minha mãe, por mais que tentasse me ajudar, acabava me deixando ainda menos à vontade. Eu precisava tomar um banho, ou ir ao banheiro, por isso deixava o Mi no carrinho. Como ele chorava o tempo todo, eu não tinha escolha: tinha que deixá-lo ali, mesmo que ele estivesse esgoelando. Ela então me olhava com aquela cara de reprovação, pegava o Miguel no colo e me dizia que não ia deixar aquela criança chorando daquele jeito. Mas ele não parava de chorar! Não havia meios de esperar que ele se acalmasse para que eu pudesse ir fazer xixi... Aquela situação me deixava ainda pior, por que eu me sentia egoísta por deixá-lo chorando, e pensava: "Ele não gosta de mim".
Quando levei o Miguel ao pediatra pela 5ª vez em 15 dias e, chorando, disse que não aguentava mais aquela situação, o médico me disse que eu estava com depressão pós-parto. Ele me disse que eu poderia tomar medicamentos - hipótese que eu nem cogitei - ou poderia tentar, por mim mesmo, reverter aquela situação. Ele me incentivou a cuidar do Miguel do meu jeito, a receber visitas, a sair de casa (mesmo que ele estivesse chorando), a permitir que as pessoas vissem como meu bebê estava crescendo e engordando. Mesmo vivendo um pequeno drama tentando amamentar o Miguel, eu escutei as palavras do pediatra e decidi que aquela tristeza não poderia roubar a alegria de ter meu filho ali comigo.
Quando o Miguel finalmente começou a mamar no peito - ainda chorando o tempo todo - eu vi que o sol começaria a brilhar na minha casa, que andava muito escura ultimamente. Quando o Miguel completou 1 mês e meio nós descobrimos que o choro dele não tinha nada a ver com falta de colo, com fome por causa de pouco leite ou com cólica por causa da minha alimentação. O Miguel tinha refluxo. Fizemos uma cintilografia, ele começou a ser medicado e, aos poucos, eu percebi que aquela história de "bebê que mama a cada 3 horas e dorme até a próxima mamada" poderia não ser exatamente a minha história. Eu teria que criar a minha rotina com o meu bebê. Percebi que quando dava um banho nele lá pelas 19h ele ficava mais relaxado e dormia um pouco melhor à noite. Abandonei o banho no meio da tarde! Também fui orientada pelo pediatra a deixá-lo sempre com a cabecinha mais alta por causa do refluxo -NUNCA de bruços. Percebi que, também por causa do refluxo, o Miguel teria que mamar uma quantidade menor de leite, porém mais vezes por dia - a barriguinha não poderia ficar cheia, senão ele vomitaria tudo o que tinha mamado. Enfim, aos poucos fui me ajeitando com meu pequeno desconhecido.
Quando o Miguel completou 4 meses o choro diminuiu um pouco e, apesar de ter que voltar a trabalhar, eu me sentia segura de que tudo estava correndo bem.
Hoje, quando visito uma amiga ou conhecida que acabou de ter um bebê, a primeira coisa que pergunto é "Como você está?". Sei que todas as atenções estão sempre voltadas para o bebê, mas sei também que, por mais que possa parecer estranho, uma mãe pode precisar falar de sua "tristeza" nesse momento de tanta alegria.
Sei que não fui a primeira e nem serei a última, mas é necessário desmistificar algumas coisas com relação a esse assunto tão delicado, para que todas as emoções de ser mãe possam ser vivenciadas de forma saudável, mesmo que algumas não estejam no nosso "roteiro"...

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